terça-feira, 10 de junho de 2014

Meia, Meia, Meia, Meia ou Meia?


A língua portuguesa é uma das mais difíceis do mundo, até para nós.
O português praticado no Brasil ...Veja esta estória...


*Na recepção dum salão de convenções, em Fortaleza*
- Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso.
- Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?
- Sou de Maputo, Moçambique.
- Da África, né?
- Sim, sim, da África.
- Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos.
- É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade...
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- Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito.
- Desculpe, qual sala?
- Meia oito.
- Podes escrever?

- Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68.
- Ah, entendi, *meia* é *seis*.
- Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?
- Quanto tenho que pagar?
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- Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam *meia*.
- Hmmm! que bom. Ai está: *seis* reais.
- Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?
- Pago meia? Só cinco? *Meia* é *cinco*?

- Isso, meia é cinco.
- Tá bom, *meia* é *cinco*.
- Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.
- Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte.
- Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.
- Pensei que fosse as 9:05, pois *meia* não é *cinco*? Você pode escrever aqui a hora que começa?

- Nove e meia, assim, veja: 9:30
- Ah, entendi, *meia* é *trinta*.
- Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado?
- Sim, já estou na casa de um amigo.
- Em que bairro?
- No Trinta Bocas.
- Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas?
- Isso mesmo, no bairro *Meia* Boca.
- Não é meia boca, é um bairro nobre.
- Então deve ser *cinco* bocas.
- Não, Seis Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu?

- Acabou?
- Não. Senhor é proibido entrar no evento de sandálias. Coloque uma meia e um sapato...

O africano enfartou...

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A origem das medidas

Quem nunca brincou de contar o número de passos que gastava para atravessar a rua ou mediu o tamanho da TV em dedões? Para facilitar medições e evitar divergências, um conjunto de padrões foi desenvolvido e é utilizado em quase todo o mundo, com exceção de três países: Myanmar, Libéria e Estados Unidos. O Sistema Internacional de Unidades (SI, do francês Système International d’Unités) reúne as principais formas de mensuração de distância, massa e tempo. E a SUPER preparou uma lista para você conhecer a origem de 11 importantes unidades de medida:

O metro
A unidade cujo nome deriva do grego μέτρον (metron), ou “medida”, originalmente foi definida como um décimo milionésimo da distância entre o equador terrestre e o Pólo Norte. A partir de 1983, para tornar a unidade mais precisa, foi definido na Conferência Geral de Pesos e Medidas que o metro passaria a ser definido como o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de um segundo. Ainda bem que existe a régua… Como o próprio nome indica, o centímetro, segundo submúltiplo da unidade, é a centésima parte do metro – e, portanto, 100 centímetros equivalem a 1 metro.

A polegada
A polegada (ou inch, em inglês) é uma das unidades usuais do sistema de medições utilizado nos Estados Unidos. A palavra inglesa deriva do latim uncia, que significa “a duodécima parte” (ou “um doze avos”) e define bem a unidade de medida: uma polegada corresponde a 1/12 de um , ou seja, 2,54 centímetros.
Trocando os pés pelas mãos, no Brasil o nome da unidade faz referência à medida média da falange distal dos polegares – ou, em bom português, a extremidade do dedão da mão. E não é só aqui que o nome da unidade de medida está na ponta dos dedos: em língua catalã, chama-se polzada; em francês, pouce; em italiano, pollice; em sueco, tum; entre outros.

O grama e o Kilograma

A arroba

O termo vem do árabe “ar-rub”, que significa “a quarta parte”. O nome se deve ao fato de que a unidade de massa equivalia inicialmente a um quarto de 1 quintal – antiga medida de massa utilizada em Portugal, Brasil e Espanha. Hoje é convencionado no país que a arroba, utilizada para pesar porcos e gado, corresponde a15 kg.

O nó


Conforme o carretel da barquinha se esvazia, é possível estimar a velocidade da navegação (via)

Pode parecer um tanto estranho, mas é possível medir a velocidade em “nós” – principalmente se estiver dentro de um barco. O nome advém de uma antiga prática nas embarcações: era utilizada a barquinha (ou barca), aparelho criado em Portugal no século XVI, para estimar a velocidade do deslocamento da navegação. Jogando o batel (peça de madeira triangular) no mar, era possível medir o número de nós que se desprendiam do carretel em determinado tempo. Em média, o nó equivale a uma milha náutica por hora, ou seja 1852 metros/hora.





O Segundo


9.192.631.770 ciclos da radiação correspondente à transição entre dois níveis de energia do átomo césio 133 no seu estado fundamental. Ou, 1 segundo. Este é o padrão de medição do tempo adotado em 1967 pelo Sistema Internacional de Medidas, utilizado para registrar com precisão o tempo em relógios atômicos.
A marcação do tempo começou com os egípcios, por volta do ano 2000 a.C., mas, naquela época, a passagem era marcada tomando como base o movimento do sol e da lua – o que fazia com que a hora tivesse durações diferentes de acordo com a estação do ano. Gregos, persas e babilônicos aprimoraram o sistema, subdividindo o dia sexagesimalmente. Foi só bem depois disso que os cientistas perceberam que a rotação terrestre, usada até então como referência para divisão do tempo, era muito imprecisa. Definiu-se, então, o segundo como 1/31.556.925,9747 do tempo que a Terra levou para girar em torno do Sol a partir das 12 horas do dia 4 de janeiro de 1900.
Com o desenvolvimento dos relógios atômicos, a medição da transição entre dois níveis de energia de um átomo ou molécula tornou-se mais fácil, permitindo também que fosse possível medir o tempo com maior precisão. Assim, durante a 13ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, em 1967, substituiu-se a definição antiga pela utilizada atualmente.


A Libra

A libra (ou pound, em inglês) é uma das unidades usuais do sistema de medições utilizado nos Estados Unidos. Apesar das diferentes definições ao longo dos anos, é convencionado hoje que 1 libra equivale a 0,45359237 quilogramas. O nome da unidade de massa deriva do latim libra, que significa balança.

O pé



 Você provavelmente já usou seus pés para medir a distância entre dois pontos – como o tamanho da trave improvisada no futebol de rua, por exemplo – mas talvez não saiba que esta prática está longe de ser novidade. Usado como forma de medição de distância desde, no mínimo, a Grécia Antiga, a unidade de medida equivale a 0,3038 metros (ou 12 polegadas) e é bastante utilizado em países como Estados Unidos e Inglaterra.

A jarda

Os fãs de futebol americano com certeza já devem estar familiarizados com esta unidade de medida. Mas se você fica completamente perdido ao escutar o narrador falar que é a “terceira subida para as 10 jardas”, a gente traduz: ele quer dizer que é a terceira tentativa para percorrer com a bola uma distância igual a 10 vezes 0,9144 metros. Tudo vai fazer mais sentido você quando for assistir ao Super Bowl, no próximo dia 3 de fevereiro.
Equivalente também a 3 pés ou 36 polegadas, a jarda (ou yd, do inglês yard) não tem uma origem muito clara, mas uma das (mais divertidas) versões dá os créditos para o Rei Henrique I, da Inglaterra: ele teria determinado a jarda como a distância entre o seu nariz e o polegar do seu braço estendido.

A milha

Você já sabe o que acontece quando o DeLorean atinge 88 milhas por hora no clássico do cinema De Volta Para o Futuro, e com certeza já ouviu falar nas 500 Milhas de Indianápolis. Mas que distância é essa que os americanos tanto adoram? Com inúmeras variações ao longo da história, a milha terrestre foi padronizada em 1959 e equivale a 1,609344 quilômetros, ou 5.280 pés. É normalmente utilizada em países de língua inglesa mas, segundo registros, a sua origem data da Roma Antiga, onde cada milha equivalia a 1000 passos (mille passus, no latim) dados pelo Centurião, e variavam entre 1400 e 1580 metros, aproximadamente.

O Quartilho





Depois de alguns pintos de cerveja… (via)
Você provavelmente nunca viu ninguém pedir ao garçom para descer mais um pinto de chope no Brasil, mas não estranharia se ouvisse a expressão na Europa ou nos Estados Unidos. Por lá, o pint, conhecido aqui como pinto ou quartilho, é uma medida de volume muito usada, mas seu valor pode variar em cada país – equivale a 568,26125 mL no Reino Unido e 473,176473 mL nos EUA, por exemplo.



 

terça-feira, 25 de março de 2014

Descoberta na Bósnia pirâmide de 25 mil anos construída por civilização misteriosa

Um estudo conduzido por um grupo de arqueólogos da Itália coloca em dúvida grande parte das certezas dos historiadores sobre o início das civilizações humanas. O motivo é uma investigação de carbono para datar a idade de uma pirâmide encontrada há sete anos na Bósnia. Surpreendentemente, a análise da matéria orgânica encontrada na Pirâmide da Bósnia do Sol indica que ela teria 25 mil anos, ou seja, seria 20 mil anos anterior aos babilônios e sumérios, civilizações que, supostamente, marcam o começo da história das civilizações humanas.
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Até 2005, antes de ser descoberta, a pirâmide até então era conhecida como a Colina de Visoko, já que se pensava que ela era apenas um morro, por conta do seu tamanho (700 metros) e pela  cobertura vegetal. Contudo, de acordo com as investigações após a prova de carbono, esta pirâmide pertenceu a uma avançada civilização pré-histórica da qual não se tem nenhum conhecimento.

Enquanto isso, os pesquisadores estão fadados a tentar desvendar uma rede subterrânea localizada sob a pirâmide, em busca de mais informações sobre este achado. Já a comunidade científica, em um geral, terá que se empenhar em fazer um novo mapa da história das civilizações, caso seja confirmada a necessidade de se reescrever o que sabemos sobre isso.

A estátua egpicia que gira

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Diretores do Museu de Manchester, na Inglaterra, estão ainda procurando uma explicação para um mistério em torno de uma estátua egípcia que, de acordo com imagens de um vídeo (veja abaixo), teria girado 180 graus dentro do vidro em que está exposta.    

A estátua de 25 centímetros de altura, de Neb-Sanu, é datada de 1800 a.C, foi encontrada dentro da tumba de uma múmia e está no museu há oito anos. Uma câmera mostra claramente quando a estátua gira em torno do seu eixo durante o dia. À noite, contudo, ela permanece parada.

Campbell Price, um egiptólogo do museu, sugere que forças do passado podem estar atuando sobre a estátua. De acordo com entrevista ao Manchester Evening News ele disse: "eu notei um dia que ela tinha virado. Eu achei aquilo estranho porque eu sou o único que tem a chave do box de vidro em que ela está"

"Eu a coloquei de volta na posição e, no dia seguinte, ela se moveu novamente. Nós colocamos a câmera e, apesar de isso não ser possível ver ao olho nu, você pode ver perfeitamente a rotação no vídeo."

“No Egito Antigo eles acreditavam que se a múmia é destruída então a estatueta pode servir como um veículo alternativo para o espírito. Talvez isso é o que esteja causando o movimento", especula o pesquisador.

Contudo, o professor de física Brian Cox, da Universidade de Manchester, apresentou uma explicação mais "terrena". De acordo com ele, uma diferença de fricção de materiais poderia estar causando o movimento. A estátua, de pedra serpentina, e o vidro da base em que ela está exposta podem provocar uma sutil vibração que faz com que a antiga peça egípcia gire.

Contudo, ao mesmo tempo, o acontecimento é estranho porque a estátua se encontra neste tipo superfície desde que chegou ao museu e ela nunca havia se movido antes. Outra coisa que chama a atenção é que seu movimento segue um círculo perfeito.


domingo, 23 de março de 2014

A busca do Graal

O jovem Percival estava exausto depois de cavalgar o dia inteiro. Meses antes ele tinha partido da corte do rei Artur em busca de fama e aventuras, mas naquela noite tudo que ele queria era dormir. Foi quando avistou um castelo. Os portões estavam abertos e Percival entrou. Lá dentro foi recebido por um certo “Rei Pescador”, um velho nobre que o convidou para a ceia. Antes de o banquete começar, duas crianças atravessaram a sala. Primeiro um menino passou trazendo nas mãos uma longa lança, cuja ponta sangrava como se estivesse viva. Logo depois surgiu uma menina em roupas majestosas, carregando um recipiente de ouro puro, incrustado pelas jóias mais preciosas da Terra. O clarão era tão intenso que as velas do castelo perderam o brilho. Percival ficou deslumbrado, mas, por timidez, não perguntou o significado daquilo. No dia seguinte, o cavaleiro seguiu viagem. Aquela cena nunca mais sairia de sua cabeça. Um dia, ele decidiu reencontrar os tesouros e desvendar seus segredos, ainda que a aventura lhe custasse a vida. A busca pelo Graal acabava de começar.
Essa história foi escrita há mais de 800 anos, por volta de 1190. Ela faz parte do livro Le Conte du Graal (“O Conto do Graal”), de Chrétien de Troyes, um dos maiores escritores franceses da Idade Média. O livro deixava de explicar muitas coisas. Afinal, que recipiente dourado era aquele? Quem era o Rei Pescador? Por que a lança sangrava? Como acabou a busca de Percival? Poucos anos depois, Chrétian morreu, deixando todas essas perguntas sem resposta.
Pelo que se sabe, O Conto do Graal foi a primeira referência ao tema na história. A Bíblia não fala uma palavra sobre o Santo Graal e seus poderes. O livro de Chrétien incendiou a imaginação dos europeus do século 12 e acabou se tornando uma verdadeira obsessão para leitores e escritores. Tudo indica que O Conto do Graal foi uma espécie de best seller de sua época – o primeiro de uma longa série de sucessos literários inspirados pelo tema. Com o tempo, foram surgindo explicações para as coisas estranhas que aconteciam na história e tanto o recipiente dourado quanto a lança começaram a ser interpretados como relíquias dos tempos bíblicos. O Graal, que começou sua história no reino da ficção, foi sendo transformado pelo imaginário coletivo em uma das peças centrais da mitologia do cristianismo – um objeto divino, dotado de poderes miraculosos e capaz de diminuir a distância entre Deus e os homens. Uma imagem tão poderosa que até hoje há quem diga que ele realmente existiu.
Após a Idade Média, a “lança que sangra” ficou meio de lado nas páginas da literatura, mas o Graal continuou sua carreira de sucesso. Ele chegou aos tempos modernos e povoou filmes hollywoodianos, reflexões eruditas e best sellers internacionais. Por trás de toda sua fama, o mistério permanece. Oito séculos após o surgimento da lenda, o dilema central continua de pé: afinal de contas, o que é o Graal?
As raízes medievais
É bom avisar logo: para a pergunta acima não há resposta. O que se sabe é que graal é uma palavra do francês antigo que indica uma espécie de tigela utilizada nas refeições dos aristocratas. Alguns acreditam que o Santo Graal seja um artefato arqueológico cujos rumos podem ser traçados desde a Antiguidade até os dias de hoje. Para outros, ele é um símbolo esotérico ou um ideal filosófico. Muita gente afirma que ele nunca passou de fantasia literária.
A estréia do Graal nas páginas da ficção, no livro de Chrétien, ocorreu em uma das épocas mais dinâmicas e criativas da história: os séculos 12 e 13, que assistiram a uma revolução nas sociedades européias. “Em todos os aspectos da vida e da cultura, o período foi decisivo para a formação do Ocidente”, diz o medievalista José Rivair Macedo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “As cidades se multiplicavam e se expandiam, o comércio renascia e por todo lado ocorriam grandes mudanças sociais e econômicas.” Esse clima também se refletiu na literatura, dando origem aos primeiros poemas e romances das línguas européias modernas – antes só se escrevia em latim, e para poucos.
Chrétien de Troyes, autor de diversos romances sobre as lendas do rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda, foi um dos escritores mais lidos dessa época revolucionária. Embora tenha sido o primeiro a escrever sobre o tema, há quem diga que o Graal não foi uma invenção sua. A figura de um “recipiente sagrado” era comum na mitologia do povo celta, que habitou a Europa Ocidental na Antiguidade, antes da chegada dos romanos. Entre as crenças celtas, havia a do caldeirão de Ceridwen, que continha uma “poção da sabedoria”, e a do caldeirão de Bran, dentro do qual os guerreiros mortos ressuscitavam. Para muitos estudiosos, o Graal de Chrétien é herdeiro dessas lendas, mais antigas que o próprio cristianismo.
Ao longo dos séculos, circulou a tese de que Chrétien encontrou a história do Graal em algum manuscrito desaparecido. Essa opinião se baseia nas palavras do próprio autor: na obra ele cita um livro anônimo cujas revelações teriam servido de inspiração para o seu conto. De acordo com alguns historiadores, isso talvez não passe de um truque literário. Ao contrário do que acontece nos tempos atuais, a Idade Média não via a originalidade com bons olhos. Os escritores tinham o hábito de citar autoridades reais ou imaginárias para dar força a suas próprias criações. Ainda assim, a idéia de um manuscrito original contendo a “verdadeira” história do Graal tornou-se comum na Idade Média. Muita gente afirmou ter encontrado o texto, mas ninguém convenceu completamente os historiadores. Se Chrétien inventou o Graal ou se o encontrou numa narrativa antiga, é coisa que provavelmente jamais saberemos.
Ainda mais incerto é o significado que Chrétien pretendia dar aos tesouros do Rei Pescador. Embora o conto fosse um trabalho de ficção, era comum que literatura e teologia se misturassem na Idade Média, com uma facilidade que pode ser difícil de compreender para a mente materialista do século 21. A religião estava presente em todos os aspectos do dia-a-dia: nobres e plebeus acreditavam no poder das relíquias (veja quadro à esquerda), viajavam centenas de quilômetros para visitar túmulos de santos e viam por todos os lados presságios do Juízo Final e sinais da providência (ou da ira) divina. Naquele mundo saturado de misticismo, o público estava acostumado a encontrar símbolos religiosos em meio aos enredos de seus romances favoritos.
Nos 30 anos seguintes, a história de Percival seria recontada por diversos autores, que acrescentaram novos detalhes e deram ao Graal aspectos diferentes. Para alguns, ele é um relicário contendo a hóstia. Para outros, uma taça ou uma simples tigela. Em Perlesvaus, obra anônima escrita por volta de 1210, o Graal é um objeto mutante, que assume cinco formas diferentes. Segundo o romancista, “nenhuma dessas transformações pode ser revelada” aos mortais comuns, exceto a última: a forma de um cálice. Alguns acreditam que o Graal-cálice reflita o fascínio medieval pela cerimônia da Eucaristia, na qual a hóstia é consagrada como sendo o corpo de cristo – o momento mais solene e dramático da fé católica.
Mas foi nas páginas do Roman de L’Estoire du Graal (“Romance da História do Graal”), escrito entre 1200 e 1210 pelo poeta francês Robert de Boron, que o Santo Graal ganhou sua versão mais popular. Robert criou uma explicação “histórica” para o misterioso tesouro: o Graal seria o prato ou o vaso no qual Jesus partiu o pão na última ceia, mais tarde usado pelo seu discípulo José de Arimatéia para recolher o sangue de Cristo na cruz. Depois da crucificação, essa relíquia teria passado por várias peripécias na Terra Santa até aportar em solo europeu, onde teria ficado escondida atrás das muralhas de um castelo encantado. Segundo o livro de Robert, o objeto tinha poderes sobrenaturais, entre eles o dom de curar feridas, espantar demônios, fazer a terra florescer e revelar segredos apocalípticos. O Cálice Sagrado funcionaria como uma ligação do plano material com o metafísico – uma espécie de ponte entre o humano e o divino.
Em outros romances, a origem da “lança que sangra” também é desvendada. Ela é descrita como a arma usada pelo soldado romano Longinus para rasgar o flanco de Cristo durante a crucificação. Segundo uma velha crença, o golpe dado por Longinus representa o momento exato da morte do Messias. Logo, a lança seria nada menos do que a arma usada para matar Jesus. Não espanta que depois de tantos séculos ela continuasse ensangüentada.
Todas essas teses fortaleciam a crença de que os objetos avistados por Percival fossem mais do que simples tesouros. Eles eram as maiores relíquias do cristianismo – os mais sagrados entre todos os objetos sobre a terra.
As novas lendas
O poeta bávaro Wolfram von Eschenbach, que viveu entre os séculos 12 e 13, foi responsável pela versão mais surpreendente do Santo Graal na Idade Média. Sua obra-prima, Parsifal, escrita entre 1210 e 1220, sugere que o Graal era muito anterior a Cristo. Em vez de prato, vaso ou cálice, ele é descrito como uma pedra luminosa, trazida à Terra por espíritos celestiais quando o mundo era jovem. O Graal-pedra teria sido guardado através dos séculos por uma irmandade de cavaleiros, os templeisen (pronuncia-se “templáisen”), no castelo de Munsalvaesche. Wolfram era um autor criativo e suas obras estão cheias de palavras inventadas e lugares imaginários – ninguém sabe o que podiam ser os templeisen ou que lugar era Munsalvaesche.
A história de Wolfram tem semelhanças curiosas com a lenda do Al-Hajarul Aswad – rocha negra guardada na Caaba, centro da Mesquita de Meca –, o objeto mais sagrado do islamismo. O poeta bávaro pode ter sofrido influência de autores muçulmanos, numa época em que os árabes dominavam boa parte da Europa. Segundo lendas antigas, o Al-Hajarul Aswad caiu dos céus nos tempos de Adão e tem o poder de purificar os fiéis de seus pecados. Outros acreditam que o Graal de Wolfram seja uma alusão ao “lápis elixir”, ou pedra filosofal, substância mítica que os alquimistas medievais consideravam capaz de prolongar a vida e transformar qualquer metal em ouro.
Parsifal pode estar na origem de outra lenda que passou a circular no fim do século 13. Segundo ela, o Graal era uma esmeralda que havia adornado a coroa de Lúcifer, o anjo mais poderoso dos exércitos divinos. Essa lenda afirma que a coroa foi despedaçada pela espada do arcanjo Miguel quando Lúcifer ousou revoltar-se contra Deus. O anjo despencou para o fundo do Inferno e a esmeralda caiu na Terra como um meteorito. Mais tarde, ela seria encontrada por um sábio chamado Titurel e esculpida na forma de um vaso.
Livros como esse alcançaram uma popularidade tão grande que, de acordo com o medievalista francês Philippe Walter, deram origem a uma verdadeira “Era do Graal” na cultura da Idade Média. Logo o Santo Cálice ultrapassou os limites da ficção e entrou no reino da possibilidade histórica. Começaram a correr rumores de que ele se encontrava de fato em algum lugar da Europa (veja o mapa abaixo).
Para os interessados em rastrear o “verdadeiro Graal”, o livro de Wolfram, com seus detalhes exóticos e alusões obscuras, foi um prato cheio. Parsifal cercou-se de polêmicas, nenhuma delas mais persistente do que a levantada pela palavra templeisen. No início da Idade Contemporânea, surgiu a tese de que a irmandade citada em Parsifal fosse uma referência à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – os templários. Para entender o fascínio que essa teoria exerceu (e ainda exerce) sobre leitores e escritores, é preciso dar uma olhada na controversa trajetória dos templários – um drama real, mas tão intenso e surpreendente que também poderia ter saído das páginas de um romancista.
Os templários
Em 1096, incitados pelo papa Urbano II, os cristãos da Europa organizaram um ataque à Terra Santa, então dominada por muçulmanos. Essa invasão foi a Primeira Cruzada e seu resultado foi a conquista de parte do território onde hoje fica Israel e a Palestina. Apesar da vitória militar, o território continuou sob litígio e, portanto, não era dos lugares mais seguros para cristãos. Por isso, 20 anos depois, foi fundada a Ordem do Templo, com o objetivo de proteger os peregrinos cristãos em visita aos santuários. Os membros da ordem uniam o treinamento militar às regras monásticas – além dos votos de pobreza e castidade, eles juravam defender a fé a golpes de espada.
Apesar do voto de pobreza, a ordem adquiriu uma especialidade nada franciscana: ganhar dinheiro. Ao longo dos séculos dedicados a proteger cristãos, os templários receberam de nobres agradecidos muitas doações de terras e dinheiro. Além disso eram beneficiados por isenções de impostos e foram aos poucos montando uma frota naval que se tornaria maior que a de qualquer Estado cristão. Seu sucesso no mundo financeiro foi tão grande que “os defensores de Cristo” acabaram se tornando banqueiros. Emprestavam dinheiro, aceitavam depósitos, controlavam investimentos. Cem anos após sua fundação, a ordem transformara-se numa verdadeira companhia multinacional, mais rica que qualquer país cristão. A influência política dos templários cresceu junto com sua riqueza. Nos séculos 12 e 13, os cavaleiros trabalhavam como conselheiros e diplomatas nas cortes dos reis e no próprio Vaticano, compartilhando segredos de Estado e contando com privilégios legais. É claro que tanto poder gerou inimigos. E a situação dos templários piorou muito em 1291, quando os muçulmanos, depois de dois séculos de luta, finalmente expulsaram os cristãos da Terra Santa.
Nas primeiras horas de 13 de outubro de 1307, Felipe, o Belo, rei da França, ordenou a prisão de todos os monges-guerreiros do país, sob acusação de heresia. Começava um dos julgamentos mais famosos e (aparentemente) injustos da história. As acusações incluíam o culto do demônio, homossexualismo e insultos à hóstia – crimes que, na Idade Média, eram motivo de sobra para a pena de morte.
Na opinião da maior parte dos estudiosos, tudo não passou de calúnia. “Nenhum historiador de renome admitirá como verdadeira essa miscelânea de tolices”, escreveu o medievalista inglês Malcolm Lambert no seu livro de 1992, Medieval Heresy (“Heresia Medieval”, sem versão brasileira). Torturados e amedrontados, muitos templários se declararam culpados. Vários monges-guerreiros pereceram nas câmaras de tortura, nas profundezas dos calabouços ou nas fogueiras da Inquisição. Outros se mataram de puro desespero. Em 1315, o papa Clemente V extinguiu oficialmente a ordem e parte das suas propriedades foi parar nas mãos de seu maior algoz – o rei da França.
A maior parte dos historiadores aposta que os monges-guerreiros tenham sido dizimados por motivos políticos e econômicos. O rei Felipe estava falido e confiscar a fortuna da ordem seria uma ótima solução para ele. Mas há teorias que dizem que a perseguição teve razões mais misteriosas. Elas falam num fabuloso “tesouro dos templários”, que incluiria quantidades absurdas de ouro, prata e jóias, além de artefatos sagrados encontrados na Terra Santa. Essas teses começaram a tomar forma apenas entre os séculos 18 e 19 – época em que surgia, simultaneamente, um renovado interesse pelos mitos do Cálice Sagrado. O Graal tinha sido esquecido no início da Renascença, quando todos os medievalismos saíram de moda. Agora, no entanto, o mito do Cálice Sagrado renascia com força total, inspirando diversas obras-primas do Romantismo, entre elas a ópera Parsifal, do compositor alemão Richard Wagner.
Não demorou muito para que estudiosos sugerissem que o suposto “tesouro perdido” dos templários, nunca encontrado, fosse nada menos que o Graal. No século 19, as obras de Wolfram foram resgatadas – e o erudito austríaco Joseph von Hammer-Purgstall foi o primeiro a afirmar que os templeisen eram na verdade cavaleiros templários. Para ele, a Ordem do Templo servia de fachada para os adeptos de uma seita pagã que adotava o Graal como uma espécie de ídolo satânico. Segundo essa tese desvairada, a matança dos templários não tinha nada de injusta – foi apenas uma reação da Igreja contra esses conspiradores demoníacos.
Hoje, a maior parte dos historiadores descarta a teoria como pura imaginação. “O vínculo entre templários e o Graal é implausível”, escreveu o medievalista inglês Richard Barber em The Holy Grail: Imagination and Belief (“O Santo Graal: Imaginação e Crença”, publicado em 2004 e ainda sem tradução no Brasil). “A Ordem do Templo era uma sociedade militar com fins práticos e não tinha nenhum interesse em misticismo ou teologia”, diz. Ainda assim, com sua irresistível mistura de erudição e conspiração, o pesquisador austríaco abriu as portas para teorias mirabolantes que relacionam templários, o Cálice e algum grandioso segredo escondido entre as páginas da história.
O cálice pop
No século 20, a lenda ganhou interpretações que soariam inacreditáveis para os contemporâneos de Chrétien de Troyes. Em 1920, a inglesa Jessie Weston imaginou uma explicação sexual: o vaso seria um símbolo da vagina e a “lança sangrenta” – adivinhe – representaria o pênis. Houve quem viajasse ainda mais longe. Na década de 80, o pastor anglicano Lionel Fanthorpe, presidente da Associação Britânica de Pesquisas Ufológicas, sugeriu, no livro The Holy Grail Revealed (“O Santo Graal Revelado”, não traduzido no Brasil), que o Cálice tivesse sido “trazido à Terra por uma nave espacial”.
Uma das teses mais famosas – e também das mais controversas – é a do livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, de 1982. Os detratores da teoria reclamam da lógica peculiar do livro, onde coincidências servem como provas e suposições viram argumentos. Por exemplo: os evangelistas às vezes se referem a Jesus como “um rabino” e, na antiga Judéia, os rabinos tinham que ser casados. Logo, Jesus devia ter uma esposa. E ela devia ser Maria Madalena, a “pecadora” que Jesus salvou do apedrejamento.
Em seguida, o livro interpreta a expressão francesa San Greal (usada em alguns textos medievais para indicar o Cálice Sagrado) como uma corruptela de sang real (em francês antigo, “sangue de rei”). O Evangelho de Marcos afirma que Jesus era descendente dos reis Davi e Salomão – logo, o tal sangue real pode ser uma referência à linhagem terrena de Cristo. De suposição em suposição, os autores chegam à hipótese de que a crucificação foi uma farsa. Jesus, que se considerava herdeiro do trono de Jerusalém, fugiu para a França com a esposa e seus filhos. Sua descendência teria continuado viva com os merovíngios, dinastia francesa que reinou nos primeiros séculos da Idade Média. Perseguidos pela Igreja Católica, que temia perder seu poder sobre os fiéis, os herdeiros de Cristo teriam sobrevivido graças à proteção – adivinha de quem? – dos templários.
Graças ao gosto moderno por intrigas esotéricas e complôs universais, essa teoria acabou se transformando num fenômeno pop. Ainda que poucos pesquisadores a levem a sério, ela acabou definitivamente assimilada à mitologia do Santo Graal. As idéias contidas em O Santo Graal e a Linhagem Sagrada serviram de inspiração para best sellers internacionais como Os Filhos do Graal, de Peter Berling, sucesso na Europa na década de 90, e O Código Da Vinci, de Dan Brown, que vendeu 17 milhões de exemplares pelo mundo e vai virar filme pelas mãos do diretor Ron Howard.
Ao que tudo indica, a saga do Graal está longe de acabar. Relíquia católica, símbolo pagão ou estrela do entretenimento, ele continua uma imagem capaz de significar muitas coisas em muitas épocas diferentes – e é nesse poder camaleônico de sugerir e ocultar, iluminar e confundir, que se encontra o segredo de sua longevidade. Desde os tempos da cavalaria até a era da comunicação em massa, o Graal sempre foi um objeto mais do reino da ficção que da história. Mesmo assim, ao longo desses 800 anos, ele nunca parou de mexer com a imaginação humana. O Código Da Vinci não é o primeiro best seller a ter o Graal como estrela. E pode ter certeza de que não será o último.

Fonte:
http://super.abril.com.br/historia/busca-graal-445474.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super

 

sábado, 18 de janeiro de 2014

OOPArt - o relógio chinês



Uma legião de fanáticos por enigmas históricos já conhece esta terminologia, mas para os que não sabem OOPArt é uma sigla para Out of Place Artifact (Objetos fora de lugar). Trata-se da descoberta de objetos durante escavações arqueológicas, paleontológicas ou mesmo por acaso, que, por suas características, não condizem de forma alguma com o local ou época em que são encontrados.

Esses objetos anacrônicos, que passaram a ser denominados pela sigla OOPArt pelo escritor e biólogo escocês Ivan T. Sanderson (1911-1973), costumam ser considerados por parte das pessoas como uma evidência de um suposto contato em nosso planeta com civilizações extraterrestres. Um dos possíveis OOPArt é um relógio de metal encontrado na China, em dezembro de 2008, na tumba de Si Qing, da dinastia Ming, de 400 anos de idade. O relógio tem apenas 100 anos e contém a inscrição “Suíça”, um país inexistente durante a dinastia Ming.

O pesquisador Jiang Yanyo, antigo curador do Museu de Guanxi, relata a descoberta: “Estávamos escavando e revirando o solo, em volta do caixão, quando um pedaço de pedra caiu no chão e fez um ruído metálico. Recolhemos então um objeto, que, em princípio, parecia ser um anel, mas, depois de limpo, constatamos, boquiabertos, que se tratava de um relógio”. Desde então, para muitos, trata-se de uma prova irrefutável da presença de visitantes extraterrestres no passado de nosso planeta, ou de uma civilização que descobriu como viajar pelo tempo. 
Uma legião de fanáticos por enigmas históricos já conhece esta terminologia, mas para os que não sabem OOPArt é uma sigla para Out of Place Artifact (Objetos fora de lugar). Trata-se da descoberta de objetos durante escavações arqueológicas, paleontológicas ou mesmo por acaso, que, por suas características, não condizem de forma alguma com o local ou época em que são encontrados.
Esses objetos anacrônicos, que passaram a ser denominados pela sigla OOPArt pelo escritor e biólogo escocês Ivan T. Sanderson (1911-1973), costumam ser considerados por parte das pessoas como uma evidência de um suposto contato em nosso planeta com civilizações extraterrestres. Um dos possíveis OOPArt é um relógio de metal encontrado na China, em dezembro de 2008, na tumba de Si Qing, da dinastia Ming, de 400 anos de idade. O relógio tem apenas 100 anos e contém a inscrição “Suíça”, um país inexistente durante a dinastia Ming. 
O pesquisador Jiang Yanyo, antigo curador do Museu de Guanxi, relata a descoberta: “Estávamos escavando e revirando o solo, em volta do caixão, quando um pedaço de pedra caiu no chão e fez um ruído metálico. Recolhemos então um objeto, que, em princípio, parecia ser um anel, mas, depois de limpo, constatamos, boquiabertos, que se tratava de um relógio”. Desde então, para muitos, trata-se de uma prova irrefutável da presença de visitantes extraterrestres no passado de nosso planeta, ou de uma civilização que descobriu como viajar pelo tempo. 
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Uma legião de fanáticos por enigmas históricos já conhece esta terminologia, mas para os que não sabem OOPArt é uma sigla para Out of Place Artifact (Objetos fora de lugar). Trata-se da descoberta de objetos durante escavações arqueológicas, paleontológicas ou mesmo por acaso, que, por suas características, não condizem de forma alguma com o local ou época em que são encontrados.
Esses objetos anacrônicos, que passaram a ser denominados pela sigla OOPArt pelo escritor e biólogo escocês Ivan T. Sanderson (1911-1973), costumam ser considerados por parte das pessoas como uma evidência de um suposto contato em nosso planeta com civilizações extraterrestres. Um dos possíveis OOPArt é um relógio de metal encontrado na China, em dezembro de 2008, na tumba de Si Qing, da dinastia Ming, de 400 anos de idade. O relógio tem apenas 100 anos e contém a inscrição “Suíça”, um país inexistente durante a dinastia Ming. 
O pesquisador Jiang Yanyo, antigo curador do Museu de Guanxi, relata a descoberta: “Estávamos escavando e revirando o solo, em volta do caixão, quando um pedaço de pedra caiu no chão e fez um ruído metálico. Recolhemos então um objeto, que, em princípio, parecia ser um anel, mas, depois de limpo, constatamos, boquiabertos, que se tratava de um relógio”. Desde então, para muitos, trata-se de uma prova irrefutável da presença de visitantes extraterrestres no passado de nosso planeta, ou de uma civilização que descobriu como viajar pelo tempo. 
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OOPArt

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Como se mede o número de sapato?

Tudo começou com um decreto meio maluco do rei Eduardo I, da Inglaterra, em 1305.
Ele estipulou que uma polegada equivaleria a três grãos de cevada secos e alinhados.

A determinação ganhou a simpatia de alguns sapateiros ingleses, que decidiram confeccionar sapatos em tamanho- padrão, de acordo com a quantidade de grãos alinhados.
Trinta e oito grãos equivaleriam ao número 38 e assim por diante.
Isso facilitou a vida deles e a dos fregueses que, antes da padronização, precisavam provar várias vezes um sapato até que ele ficasse pronto.
Os sapatos precisavam ser bem mais largos do que são hoje, porque não havia distinção entre o pé esquerdo e o direito”, explica o designer de calçados Luiz Danilo Diniz.

A diferenciação entre os lados só foi acontecer no começo do século 19, nos Estados Unidos.
Mas não adianta enfileirar grãos de cevada para conferir o número dos seus pés.
Durante a revolução industrial, os países europeus decidiram padronizar o tamanho do grão e o transformaram em uma unidade métrica chamada ponto.
O tamanho desse ponto varia de um lugar para outro e é por isso que a numeração muda de acordo com o local.
Os Estados Unidos usam o ponto inglês, enquanto o Brasil e parte da Europa usam o ponto francês, que mede 0,666 centímetro.
Ainda assim, há variações entre países que usam a mesma medida. Alguns, como a Itália, utilizam o meio ponto, ampliando a grade de numeração.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Termodinâmica do Inferno

O Dr. Schambaugh, professor da escola de Engenharia Química da
Universidade de Oklahoma é reconhecido por fazer perguntas do tipo: 
"Por que os aviões voam?" em suas provas finais. 
Sua única questão na prova final de maio de 1997 para sua turma de 
Transmissão de Momento, Massa e Calor II foi: 
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"O inferno é endotérmico ou exotérmico? Justifique sua
resposta."
.
Vários alunos justificaram suas opiniões baseados na Lei de
Boyle ou em alguma variante da mesma. 
.
Um aluno, entretanto, escreveu o seguinte:
.
"Primeiramente, postulamos que se almas existem então elas devem ter
alguma massa. Se elas têm, então um mol de almas também tem massa.
Assim sendo, o estado termodinâmico do inferno é função da grandeza de
seu volume de controle e da taxa do fluxo líquido das almas que passam
pelo mesmo.

Eu acho que podemos assumir seguramente que uma vez que uma alma entra
no inferno ela nunca mais sai. Por isso não há almas saindo. Para as
almas que entram no inferno, vamos dar uma olhada nas diferentes
religiões que existem no mundo hoje em dia. Algumas dessas religiões
pregam que se você não pertencer a ela, você vai para o inferno. Como
há mais de uma religião desse tipo e as pessoas não possuem duas
religiões, podemos assumir que todas as pessoas e almas vão para o
inferno.

.
Daí tem-se que a integral de superfície do fluxo de almas sobre o volume
de controle do inferno é negativa o que, de acordo com o teorema da
divergência de Gauss implica dizer que a integral de volume da
divergência do fluxo de almas com relação ao volume de controle do
inferno é também negativa.

Com as taxas de natalidade e mortalidade do jeito que estão, podemos
esperar um crescimento exponencial das almas no inferno em função do
tempo.

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Agora vamos olhar a taxa de mudança de volume de controle do inferno. 

A Lei de Boyle diz que para a temperatura e a pressão no inferno serem
invariantes ao tempo, a relação entre a massa das almas e o volume de
controle do inferno deve ser constante.

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Existem então duas opções:

1 - Se o volume de controle do inferno se expandir numa taxa menor do
que a taxa de almas que entram no mesmo, então sua temperatura e
pressão vão aumentar até ele explodir.

2 - Se o volume de controle do inferno estiver se expandindo numa taxa
maior do que a da entrada de almas, então a temperatura e a pressão
irão baixar até que o inferno se congele.
Então, qual das duas?
Se nós aceitarmos o que Theresa Manyam(A menina mais bonita da escola) me disse no primeiro ano:

"haverá uma noite fria no inferno antes que e eu me deite com você", e levando
em conta que ainda NÃO obtive sucesso na tentativa de me deitar com ela,

então a opção 2 não é verdadeira.
Por isso, o inferno é exotérmico."

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O aluno Tim Graham tirou o único A na turma.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O poder da intuição

Ela é um dos mistérios mais impenetráveis da natureza humana. Mas está longe de ser uma lenda: a intuição não só existe como é essencial para a nossa vida. E as decisões motivadas por ela podem ser melhores que as mais racionais. Saiba como usar essa ferramenta do cérebro.

O rapaz da câmera pede que Júlio Rasec fale alguma coisa. Júlio está de partida para Portugal. O sujeito que filma, um amigo, quer registrar os últimos momentos dele no Brasil. Mas Júlio não quer papo. Está angustiado. Só diz para a câmera: "Esta noite eu sonhei com um negócio assim... Parecia que o avião caía..." Júlio era tecladista do Mamonas Assassinas. Doze horas depois dessa gravação, em 2 de março de 1996, o Learjet que levava a banda bateu na serra da Cantareira, perto de São Paulo.
Outro caso: Cida Moraes, participante do Big Brother em 2002, tinha uma irmã com câncer. Numa manhã, dentro da casa do BBB, Cida começa a ouvir vozes na cabeça dela. Entende aquilo como a irmã chamando por ela. Horas depois a produção avisa Cida que a irmã acaba de morrer. Sua intuição, como a de Júlio, parecia passar uma mensagem.


A intuição humana é um fenômeno tão bizarro quanto comum. Quem nunca sentiu aquele comichão na boca do estômago dizendo "tem alguma coisa aí"? Mesmo os casos em que não há tragédia no meio não são menos assustadores. Existem pessoas cuja intuição é tão poderosa que elas parecem capazes de ler a mente das pessoas. Não só das pessoas: o psicólogo americano Silvan Tomkins, por exemplo, enriqueceu apostando em cavalos porque, segundo ele, sabia se um animal poderia vencer "só de olhar a expressão no rosto dele". Mas e aí? Tudo isso é real? A intuição é mesmo capaz de ler mentes? E de prever o futuro? A resposta é contraintuitiva.

Mas o que é intuição, afinal de contas? Grosso modo, dá para dizer que existem 3 tipos bem diferentes. O 1º é aquilo de saber o que outra pessoa está sentindo sem fazer força. É "ler a mente" dos outros. O 2º tipo de intuição é o que tem a ver com a experiência: você pratica tanto alguma coisa que não precisa mais pensar para fazê-la - tipo trocar as marchas do carro. Só que algumas pessoas aprendem a fazer coisas bem menos banais. Quase sobrenaturais, na verdade. O 3º tipo é o mais polêmico. É o daquela intuição do Júlio do Mamonas e da Cida do BBB: a capacidade de prever o futuro.

Então vamos começar por esse, claro. Do ponto de vista científico, nós temos premonições o tempo todo. É que prever o futuro pode ser algo tão simples quando saber que, quando um pit bull late para você de dentro de uma garagem com o portão aberto, é sinal de um grande problema pela frente. Nós precisamos desse nível básico 1 de premonição para sobreviver. Mas isso é algo tão automático que ninguém nem chama de "prever o futuro". Premonição para valer é algo mais complexo, como ter certeza de que um avião vai cair, certo? Você sabe disso. Mas seu cérebro não.

Ele trata os problemas simples e os complexos do mesmo jeito. Por exemplo: sua massa cinzenta tem 100% de confiança que, depois de um raio, vai vir o som de um trovão. Ok. E nesses casos, que dependem de leis regulares da natureza, ela acerta sempre. Mas o cérebro é gente como a gente: bastam esses pequenos sucessos que ele se empolga, fica se achando. Aí tenta prever coisas bem mais complexas, como as chances de seu avião sofrer um acidente.


Claro que ele não tem nenhuma competência para isso. Mas acha que tem. Então, num dia em que você estiver indo para o aeroporto e sentir que não deve embarcar, lembre-se: é que seu cérebro ficou computando o risco de o avião cair e, desta vez, concluiu que, sim, se você entrar na aeronave, acabou.
Só que tem uma coisa: se você não der ouvido a ele, embarcar e nada acontecer, a premonição errada vai para o lixo da mente junto com bilhões de outros erros de avaliação que o cérebro faz o tempo todo. E fica tudo por isso mesmo.

Já se você ficou com tanto medo que achou melhor não viajar e o avião acabou caindo, a certeza de que a previsão estava certa será total. Até por isso as histórias de premonições nunca param: houve 51 acidentes com aviões comerciais em 2009. Se só um dos passageiros que deveriam estar nesses voos não embarcou por medo, temos um caso praticamente comprovado de premonição. Ou seja: a chance de que haja coincidência não é nada desprezível. E vale a mesma coisa no caso de quem prevê a morte de uma pessoa querida. A Cida do BBB sabia que a irmã estava doente. Havia uma preocupação natural. E mais: da mesma forma que o cérebro pode dizer que o avião vai cair e não tem outro jeito, ele pode dar um tilt e concluir por A + B que uma pessoa vai morrer num determinado dia. Isso é o que explica o caso de Cida.

Mas o lado puramente ilusório da intuição acaba aí. O que vamos ver daqui para a frente são fatos reais, ligados àqueles outros dois tipos de intuição. E, justamente por serem fatos reais, concretos, são os que mais assustam.

Superpoderes do cérebro
Victor Braden percebeu que acontecia algo estranho toda vez que ele assistia a uma partida de tênis: viu que sabia quando um tenista ia cometer dupla falta. No jogo, para quem não sabe, o atleta tem duas chances de sacar. Então pode soltar o braço na 1ª e, se a bola for na rede ou para fora, parte para a 2ª tentativa. Dupla falta é quando ele erra nesta última. Bom, Victor percebeu que era só o tenista jogar a bolinha para cima, na fração de segundo entre o movimento de saque e o toque na bola, ele podia dizer "Putz, dupla falta!" que não tinha erro: o tenista perdia o saque. Nosso vidente aqui é um bem-sucedido treinador de tênis. Mas isso não parecia o suficiente para justificar tal desempenho. Duplas faltas são raras. Um jogador profissional pode sacar centenas de vezes e cometer só 3 ou 4 delas. "Cheguei a ficar com medo. De cada 20 palpites eu estava acertando 20!", disse Braden ao jornalista Malcom Gladwell (que narrou essa história em seu livro Blink, sobre intuição).

Que tipo de sutilezas de movimento Braden observava para diagnosticar um saque defeituoso antes que ele acontecesse? Ele não tem como responder. Simplesmente sabe se o tenista vai acertar ou não. E ele não é um caso isolado. Esse mesmo instinto guiou 6 especialistas diferentes em arte antiga quando eles viram o que estava sendo propagandeado como uma obra-prima da escultura grega. Era a estátua de um jovem nu supostamente datada do século 6 a.C. pela qual o Museu J. Paul Getty, nos EUA, tinha pago US$ 10 milhões. Análises conduzidas pelo geólogo Stanley Margolis, da Universidade da Califórnia, revelaram que a estátua estava recoberta por uma fina camada mineral, que só poderia ter sido formada ao longo de centenas de anos, ou mesmo milênios, de envelhecimento do mármore. Mas os especialistas bateram o pé: algo lhes dizia que a estátua era falsa. Eles não sabiam dizer exatamente por quê. Mas tinham uma sensação firme de que a estátua era falsa. Quem estava certo, a análise do geólogo ou o olhômetro instantâneo dos especialistas? O olhômetro. Pouco a pouco, investigações conduzidas pelo museu (depois que ele já tinha desembolsado a dinheirama para adquirir a estátua, infelizmente) mostraram, entre outras coisas, que os certificados de autenticidade da obra tinham sido falsificados; que uma escultura bem parecida com ela tinha vindo da oficina de um falsificador em Roma; e que a suposta cobertura mineral antiga podia ser produzida em dois meses, com a ajuda de bolor de batata. Pois é. A intuição se mostrou mais racional que a razão.

O que Braden e os especialistas em arte sentem é aquele outro tipo de intuição: o que melhora com a experiência sem que a gente se dê conta. Tudo de forma inconsciente.

O psicólogo Timothy Wilson, da Universidade da Virgínia, compara essa habilidade ao piloto automático das aeronaves. "A mente trabalha melhor relegando ao inconsciente uma boa parcela do pensamento racional, assim como um jato de passageiros consegue voar com pouca intervenção do piloto."

Alimentar essa máquina inconsciente é simples. Se você joga tênis, pode ir acumulando tantas informações sobre o jogo ao longo dos anos a ponto de, um dia, prever se um tenista vai cometer dupla falta sem pensar um segundo.

Um experimento da Universidade de Iowa conseguiu flagar esse processo de aprendizado inconsciente no momento em que ele acontecia.

O experimento envolvia 4 maços de cartas, dois azuis e dois vermelhos. A missão dos voluntários da brincadeira era ir virando as cartas ao acaso: dependendo do que aparecia nelas, a pessoa ganhava ou perdia pequenas quantias em dólares. A sacanagem embutida na experiência é que as cartas vermelhas ofereciam um ou outro prêmio bacana, mas na maioria das vezes correspondiam a grandes penalidades, que fariam o jogador ficar sem nada se ele insistisse em virá-las. O bom mesmo era virar só as cartas azuis, que sempre traziam um prêmio considerável e, no máximo, penalidades suaves. O grupo de Iowa queria saber com que velocidade os jogadores perceberiam a maldade e passariam a preferir as cartas azuis. É aqui que a coisa fica maluca. Após virar, em média, umas 50 cartas, os participantes já passavam a evitar quase sempre os maços vermelhos. Mas eles não sabiam dizer o motivo. Eles só conseguiam explicar por que preferiam os maços azuis quando o número de cartas viradas chegava a 80. Para entender melhor o que se passava na cabeça dos participantes, os cientistas mediram suas reações fisiológicas. Então plugaram os sujeitos numa máquina que mede a produção de suor nas glândulas que as pessoas têm na palma das mãos.

Ora, como sabe qualquer pessoa que já tenha passado por uma entrevista de emprego, é comum que as mãos fiquem molhadas de suor quando estamos nervosos, um indicador clássico de estresse. Acontece que, em torno da 10ª carta virada - umas 40 cartas, portanto, antes de as pessoas conseguirem verbalizar a razão de seu desconforto -, o suadouro nas mãos ligado ao estresse já se manifestava diante do maço de cartas vermelhas.

Uma regra inconsciente já tinha se apoderado do sistema nervoso dos participantes sem que eles soubessem. A intuição dizia para eles tomarem a atitude certa antes que a parte racional do cérebro soubesse o que estava acontecendo. Intuição 1 x 0 razão. E não é só no baralho que isso acontece, claro. Essa mesma lógica irracional pode determinar se um casamento vai dar certo ou não.
A equipe do psicólogo e terapeuta de casais John Gottman desenvolveu o que poderíamos considerar uma versão mais sofisticada do experimento das cartas. Foi um processo bem mais trabalhoso: ao longo de décadas, Gottman e companhia observaram e filmaram 3 mil casais em conversas supérfluas, sobre qualquer tema do relacionamento deles que tivesse desembocado em alguma discordância - o novo cachorro da casa, por exemplo.

Só para garantir a correlação entre o que era dito e as reações automáticas do organismo (muito menos mentirosas que as palavras), marido e mulher também eram plugados a medidores de batimentos cardíacos, temperatura da pele e produção de suor. Os pesquisadores da Universidade de Washington logo perceberam que apenas 4 indicadores eram suficientes para prever o fracasso de um relacionamento. Gottman apelidou esses indicadores de Quatro Cavaleiros (por analogia com os do Apocalipse): ficar na defensiva, dificultar a discussão, crítica e desprezo.

"Desses, no entanto, o desprezo de longe é o mais importante", afirma Paul Bloom, psicólogo da Universidade Yale (EUA) que adota a classificação proposta por Gottman. "A sentença de morte de um casamento não é quando o casal briga muito, nem mesmo quando eles parecem se odiar, mas quando há desprezo recorrente", diz Bloom. Pequenos sinais dessa emoção negativa em conversas, como rápidas viradas de olhos, especialmente se aparecerem com frequência, são marcas tão claras de que a coisa vai mal que a equipe de Gottman já está conseguindo índices de previsão próximos a 90% analisando apenas 3 minutos de conversas em vídeo.

Para Gottman e seus colegas, o fato de que essas pequenas amostragens de conversas são o suficiente para prever o futuro de um casamento sugere que os relacionamentos possuem uma espécie de "pulso" ou "assinatura" constante, que tende a se repetir ao longo do tempo. Portanto, bastaria conseguir captar esse "pulso" de forma mais ou menos instantânea para saber o que vai acontecer no longo prazo. Se alguém recém-separado diz algo como "Intuí na lua de mel que o nosso casamento não daria certo", é que o cérebro dele, ou dela, pescou essas assinaturas sem pensar.

O mesmo fenômeno detectado nos casais está presente em outras formas de percepção ultrarrápida. Se você achou que 3 minutos é pouco tempo para intuir alguma coisa, precisa conhecer um estudo da psicóloga Nalini Ambady, da Universidade Tufts. Ela concluiu que dois segundos é o suficiente para que a sua intuição seja capaz de tomar decisões. E acertar. Nalini mostrou para voluntários uma série de vídeos de dois segundos, cada um com um professor dando aula. O objetivo dos participantes era prever quais mestres seriam bem avaliados pelos próprios alunos e quais não. Note bem: os alunos tinham 6 meses de aula com o sujeito para dar seu parecer. Os voluntários, só dois segundos. E o que aconteceu? Os voluntários previram tudo certinho.

Não foi o único experimento assim. Em outro, Nalini colocou um vídeo mostrando vários cirurgiões. Alguns tinham sido processados por clientes. A tarefa dos voluntários era descobrir quais, enquanto eles falavam. Para complicar, a psicóloga usou um software que remove do vídeo as frequências da fala humana. Os voluntários só conseguiam perceber a entonação das vozes. E acertaram também!

Parece absurdo, mas você ainda não viu nada. Às vezes basta algo tão sutil quanto o movimento de um único músculo do rosto para você criar uma primeira impressão de alguém. E, como a primeira é a que fica, melhor prestar atenção na nossa próxima parte.

A verdade está na cara
Basta engatar uma conversa com alguém para um turbilhão inconsciente invadir sua cabeça. É a sua mente tentando descobrir o que o outro está pensando e sentindo de verdade. Por exemplo: se você conhece duas pessoas em um dia, pode muito bem ficar com impressões completamente opostas de cada uma, mesmo que o teor das conversas tenha sido exatamente o mesmo. Uma pode parecer simpática e a outra falsa. Isso acontece porque a comunicação verbal não vale nada para o seu inconsciente. O que ele capta são as expressões faciais do outro. Se uma daquelas pessoas riu durante a conversa, mas sem mover os olhos, seu cérebro vai saber que aquilo é uma expressão forjada. Você pode nem perceber que viu um sorriso de mentira. Mas seu cérebro percebe - e isso vai afetar o julgamento que você faz do interlocutor. A análise de expressões faciais é tão instintiva que, se você cutuca um bebê que está na dele, brincando, ele vai olhar no seu rosto para saber se você é uma ameaça. E, se você simular que é uma ameaça, fazendo uma careta, por exemplo, ele vai dar logo seu sinal de desaprovação. Nada é mais amedrontador para um ser que nasce sabendo ler expressões do que um monte de músculos distorcidos na face. Apesar de fundamental, isso de ler a mente dos outros a partir de expressões sutis do rosto é uma ciência pouco estudada. Quase tudo o que se sabe disso vem do trabalho de dois cientistas: Silvan Tomkins, aquele psicólogo de Princeton que dizia saber ler as expressões dos cavalos, e Paul Ekman, seu pupilo, hoje professor aposentado da Universidade da Califórnia em São Francisco. Os dois, por sinal, servem de inspiração para o Dr. Carl Lightman, protagonista da série Lie to Me. Se você já assistiu, conhece o principal trabalho de Ekman: a descoberta das microexpressões. Ele catalogou, uma a uma, cerca de 3 mil combinações de movimentos musculares do rosto. O resultado foi um mapa quase completo das expressões humanas. Mas o principal veio depois. Após estudar horas e horas de vídeo de milhares de pessoas, ele percebeu a presença constante de movimentos faciais que duram uma fração de segundo. Eram movimentos correspondentes a emoções que, pelo visto, as pessoas estudadas estavam tentando ocultar. Alguém simulando bom humor, por exemplo, poderia mostrar muito brevemente os lábios estreitados que caracterizam uma expressão de raiva. A mera existência das microexpressões significa que nossos instintos podem ser capazes de ler a mente dos outros de forma muito mais complexa do que detectar sorrisos falsos. Tomkins que o diga. Ele tinha ido visitar Ekman em seu laboratório enquanto ele estudava as expressões de nativos de Papua-Nova Guiné. Algumas imagens eram da tribo fore, um povo bem pacífico. As outras eram dos kukukuku, um grupo guerreiro e sodomita, que obrigava os jovens da tribo a fazer sexo com mais velhos. Tomkins não sabia de nada disso quando começou a ver as imagens no laboratório. Mas então olhou para uma foto dos fore e disse: "Hum... Esse povo me parece muito educado e gentil". Então apontou para a de um kukukuku: "Este outro é violento, e estou vendo evidências de homossexualidade". Ekman ficou de queixo caído. Quando perguntou como Tomkins tinha adivinhado, o mestre só apontou para pequenas rugas e protuberâncias que caracterizavam as expressões no rosto dos fotografados. Era tudo o que o psicólogo precisava para entrar na mente deles.

Tomkins é um fenômeno, claro. Mas isso só significa que algumas pessoas sabem ler microexpressões melhor do que outras. Você mesmo pode ser um mestre nato nisso e não saber. Mas, se você tem certeza de que não é, não há nada perdido. Do mesmo jeito que um especialista em tênis aprende a ler todos os movimentos dos jogadores, com bastante treino você pode perceber expressões que passavam batido e melhorar sua capacidade intuitiva (e dá para começar com o jogo que você viu ao longo desta reportagem). Mas, mesmo que você fique bom nisso, é melhor usar com cuidado.

O próprio Ekman faz uma ressalva importante: a presença de microexpressões serve apenas para indicar que a pessoa está reprimindo certas emoções. Não é suficiente, portanto, para revelar o porquê dos sentimentos conflitantes. Uma cara de raiva disfarçada (veja no jogo) não significa automaticamente que a pessoa está brava com você. Pode ser por qualquer outro motivo. E isso você não tem como saber de forma intuitiva, claro. Outro problema de seguir as intuições cegamente: somos preconceituosos. Mesmo quando achamos que não. Quer ver? Então responda rápido: qual cidade é mais ao norte no planeta? Lisboa ou Toronto? A alternativa certa é a cidade portuguesa, não a canadense. Mas as imagens-clichê do Canadá sempre cheio de neve enganam a intuição.

Um experimento de Keith Payne, psicólogo da Universidade da Carolina do Norte, mostra uma face mais sombria da mesma coisa. Payne colocava os participantes diante da tela de um computador. Aí aparecia rapidamente um rosto branco ou negro. Depois surgia na tela um desses dois objetos: ou uma chave inglesa ou um revólver. Tudo num piscar de olhos. E as pessoas tinham que dizer o que viram. O resultado? Elas identificavam mais rápido o revólver quando a imagem dele ele era precedida por um rosto negro do que por um branco. Payne, então, colocou os voluntários sob pressão: tinham de dar a resposta em meio segundo. Aí muitos passaram a dizer que a chave inglesa era um revólver quando ela aparecia depois do personagem negro. A única maneira de diminuir o preconceito inconsciente nas respostas era dar mais tempo para o pessoal determinar, com calma, o que tinha visto.

E, ei, isso vale para todo mundo: reflita bem antes de achar que viu sinal de um dos "Quatro Cavaleiros" dos relacionamentos no rosto de quem você ama ou de concluir que o sorriso do seu vizinho quando ele dá bom-dia não é verdadeiro. Pensar de menos, afinal, pode ser tão perigoso quanto pensar demais.

 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O porquê dos 10:10 nos relógios

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Você já prestou atenção alguma vez em que quase todos os relogios que aparecem nos anúncios marcam 10:10? 
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Se nunca reparou, comprove vendo as imagens de relógios no Google Imagens

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Mas a que se devem esta hora? Simples, a alguns poucos efeitos psicológicos e estéticos muito estudados:


  • Os ponteiros formam um "V", que significa "aceitável"
  • Ou "ok" (lembre do ícone do Ok) 
  • além de que a posição pode ainda ser identificada como um sorriso;
  • A posição dos ponteiros não cobre nem o logotipo do fabricante nem o calendário, localizado normalmente às 9 (quando está à esquerda) ou às 3 (quando se situa à direita);
  • Quando você não precida ir trabalhar, a que hora você acorda: 10 e pouco né. Pois então, esta posição dos ponteiros é uma mensagem subliminar que cria uma sensação agradável a quem vê.