domingo, 8 de agosto de 2010

Martin Luther

Martin Luther

Terrível. Implacável.
Assim eu via o Senhor.
Ele nos punia em vida e nos enviava ao purgatório após a morte ou
nos enviava para as chamas do inferno antes do descanso eterno.
Mas estava errado.
Quem vê um Deus enfurecido...
não O vê com clareza...
mas O vê através de um véu...
como se uma tempestade escura
escondesse a Sua face.
Se realmente acreditarmos
que Cristo é o nosso salvador...
então temos um Deus de amor.
E se tivermos fé em Deus significa olhar para Seu coração generoso.
Então se o demônio jogar seus pecados em seu rosto...
E disser que merecem a morte e o inferno, respondam...
“Eu admito que mereço a morte e o inferno, e daí?”
Pois sei de Alguém que sofreu e morreu na cruz para me redimir.
Seu nome é Jesus Cristo, o filho de Deus!
E onde Ele estiver,
Eu também estarei.



Martin Luther (Martinho Lutero) viveu de 1483 a 1546. Filho de uma família de origem camponesa seu pai Hans Luder um mineiro e mais tarde membro da administração local (Ratsherr). Luther foi um mestre em filosofia pela Universidade de Erfurt (Turíngia, um dos 16 estados da Alemanha), Monge agostiniano, Sacerdote, Doutor em Teologia.



Martin Luther - Trabalhos compilados



Nasceu em Mansfeld, uma cidade próxima de Eisleben, na Saxônia (Alemanha) em 10 de novembro de 1483.

Em 1497, Luther estudou em Magdeburgo, junto aos monges Irmãos da vida comum.

Em 1501, a Universidade de Erfurt dá a Luther o título de bacharel em artes ("Magister Artium") da faculdade de Filosofia.











Erfurt - Thuringia (Turingia)

Em 1505 ingressa no Convento de Erfurt como Monge, justificou sua decisão quando explicou que teve vários encontros com a morte que lhe fizeram Sentir a fugacidade da vida. Sua primeira missa é tomada pelo sentimento de sua própria indignidade.



Monastério Agostiniano





No outono de 1506 professou como monge e um ano mais tarde se ordenou Sacerdote.

Em 1508, ao ler Romanos 1:17, foi iluminado de súbito pelo Espírito Santo e a paz lhe inundou a alma. Viu, por fim, que a salvação ganha-se pela confiança em Deus, mediante Jesus Cristo, e não pelos ritos, sacramentos e penitências da igreja.











Em 1510 viaja a Roma em representação de Sete monastérios Agostinianos, diante da mundanidade (sistema de vida que apenas valoriza os bens materiais) do clero, é tomado pela indignação:



Vaticano





“Roma é um círculo, um esgoto vivo”,
Compra-se de tudo, sexo, salvação...
Tem bordéis só para clérigos.
Uma Igreja mostrava as 30 moedas que
Judas recebeu...
Quem as beijava, ganhava...
100 anos de indulgência ““.





Isso mudou totalmente a sua vida e todo o curso da história. O desespero é vencido, entretanto, pela dedicação ao estudo e ao ensino. Aprendeu línguas antigas, viveu e pregou em Erfurt até 1511.

Wittenberg

Em 1512, o monge Martin Luther forma-se Doutor em Teologia, tornando-se professor da Universidade de Wittenberg, onde ministrou colóquios sobre os livros dos salmos e as cartas de Paulo, era conhecido como um homem inteligente, sensível e religioso.

É considerado, depois de Jesus e Paulo, o maior homem de todos os tempos. Levou o mundo a romper com a instituição, em busca da liberdade. Defendia suas opiniões em debates universitários em Wittenberg e em outras cidades, por isso foi investigado pela Igreja romana.


Quando me tornei monge, eu achei
que o capuz iria me fazer santo.
Fui um tolo arrogante.
Agora eu sou Doutor em Teologia e...
Estou tentado a acreditar que este
hábito irá me tornar mais sábio.
Bom, Deus já falou uma vez
pela boca de um asno e
Talvez ele esteja preste a fazê-lo de novo.
Mas vou dizer o que penso sem rodeios.
Quem de vocês já foi a Roma?
Comprou alguma indulgência?
Eu sim.
Por um florim de prata
livrei o meu avô do purgatório.
Pelo dobro, teria livrado minha avó e meu Tio Marcus também...
Mas...Eu não tinha fundos, então...Eles continuaram por lá.
Já quanto a mim mesmo, os Padres me
garantiram que apenas de olhar para as relíquias sagradas,
O meu tempo no purgatório seria reduzido.
Sorte que em Roma havia pregos da Santa Cruz...
para ferrar todos os cavalos da Saxônia.
Mas há relíquias em toda a cristandade.
Dos 12 apóstolos, 18 estão enterrados na Espanha.
Mas aqui em Wittenberg nós temos o que há de melhor!
Pão da última Ceia!
Leite dos seios da Virgem!
O espinho que feriu a testa
de Cristo no Calvário e acreditem...19.000 pedaços de ossos sagrados!
E todos eles são relíquias sagradas autenticadas...Até o próprio John Tetzel,
o Inquisidor da Polônia e da Saxônia...um extraordinário vendedor de indulgências...
um conhecedor de relíquias, inveja a nossa coleção.
E para tê-las por apenas uma simples noite...
de muito bom grado ele daria cinco anos de sua vida terrena!
Ou 500 anos no purgatório.


Basílica de São Pedro



Em 1514, o Papa Leão X concede indulgências para fiéis que havendo confessado e comungado, contribuíam para a construção da Basílica de São Pedro, tal construção iniciada pelo Papa Julio II que em 1506 colocou a primeira pedra da Nova Basílica beneficiada com o dízimo (tributo que os fiéis pagavam à Igreja como obrigação religiosa) dos fiéis.

Em 1515, o Príncipe Alberto de Brandeburgo torna-se comissário das indulgências. É encarregado de levantar dinheiro junto aos cristãos alemães.



INDULGÊNCIA

Uma indulgência, na teologia do catolicismo romano, é o perdão ao cristão dos castigos devidos a Deus pelos pecados cometidos na vida terrena. A igreja católica romana concede estas indulgências após o pecado e o seu imanente castigo de danação eterna tenham sido perdoados pelo sacramento da reconciliação, também conhecido como penitência ou perfeita contrição (arrependimento).



Na teologia católica romana, a salvação tornada possível por Jesus Cristo permite ao pecador fiel a admissão no céu.

Vaticano



E para isso era bem simples, bastava ter fundos o suficiente, caso não tivesse, o inferno era certo. Como cita Luther: Por um florim de prata, ele livrou seu avô do purgatório, pelo dobro teria livrado sua avó e seu tio também, mas como ele não tinha fundos, eles continuaram por lá.

As indulgências removem algumas ou todas estas penalidades devidas pelos pecados dos fiéis. Depende somente de sua condição financeira. Sem querer ironizar, mas seguindo essa linha de pensamento, o povo judeu será o único povo puro na face da terra, pois escolhido de Deus já é, e dinheiro não irá faltar para pagar as indulgências.





Indulgência vendida por Johannes Tietzel (João Tetzel), Inquisidor da Polônia e da Saxônia...



Uma indulgência vendida por autoridade do papa por João Tietzel (Tetzel) em 1517. O texto em alemão:

"Pela autoridade de todos os santos, e em misericórdia perante ti, eu absolvo-te de todos os pecados e crimes e dispenso-te de quaisquer castigos por 10 dias"







Vale observar que João Tetzel (Johannes Tietzel), foi um padre Dominicano, Inquisidor da Polônia e da Saxônia...Um vendedor de indulgências autorizado pelo Papa Leão X (Giovanni di Lorenzo de' Médici) eleito em 1513, a sua extravagância característica valeu-lhe muitos inimigos e pelo menos uma tentativa de assassinato, que falhou.



Papa Leão X - Foi Papa da Reforma e Contra-Reforma de 1513 a 1521





O estilo esbanjador do seu reinado (Leão X) e a construção da Basílica de São Pedro em Roma deixaram o Vaticano na bancarrota e para colmatar o estrago (tapar as brechas), Leão X resolveu vender indulgências através do monge Johannes Tietzel. Seu lema era: Uma vez que Deus nos conferiu o pontificado, vamos aproveitá-lo!















Porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, onde Luther afixou as 95 teses, em 31 de outubro de 1517



Como conseqüência, nesse mesmo ano em Outubro de 1517 Martin Luther (Luder sendo alterado para Luther: alusão à palavra grega leutheros, que significa Libertador e Livre) afixou as suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg contra os abusos e práticas (irregularidade, corrupção etc.) da Santa Igreja Católica Romana, com essa atitude iniciou o movimento Protestante. Apesar de não ser o único, mas a venda de Indulgências foi seu principal motivo para o protesto.

Para Luther, a essência do cristianismo não se encontrava na organização da igreja liderada pelo Papa, mas na comunicação direta que cada pessoa pudesse estabelecer com Deus. Seu protesto gerou muitos problemas para a Igreja Católica e estabeleceu as diretrizes para outros movimentos, a Alemanha, Escócia, Inglaterra e outros países ergueram-se de súbito a favor de Martin Luther.







A Igreja Romana queimou muitos crentes. Na Espanha sufocou o movimento a ferro e fogo; nos Países Baixos, o duque de Alba massacrou cem mil vítimas; na França se processa uma carnificina, denominada de "Noite de São Bartolomeu", tendo perecido entre setenta e cem mil huguenotes (protestantes calvinistas), o Papa Gregório XIII comemorou ordenando que cantassem o Te Deun, cunharam moedas comemorativas e ainda trocaram presentes. Nos países em que a reforma foi aceita, houve uma volta ao puro ensino de Cristo.

Em 1518 as teses espalham-se por toda a Alemanha. Luther ganha adeptos a cada dia. Chamado a Roma, recorre a Frederico, eleitor da Saxônia, desejando ser ouvido em território do Império. Em 1520 a Bula "Exsurge Domine" dá ao monge Martin Luther sessenta dias para retratar-se. Em resposta, Luther publica uma série de obras. Finalmente, em Wittenberg, queima um exemplar da Bula Papal.

Bíblia de Martin Luther - Wittemberg 1533



Em 1521 Martin Luther é excomungado (estigmatizado como maldito) na Dieta de Worms (em Alemão: Wormser Reichstag) foi, como qualquer Reichstag (sessão do governo imperial), uma cimeira oficial, governamental e religiosa. Chefiada pelo imperador Carlos V, teve lugar em Worms, na Alemanha, uma pequena cidade no rio Reno.

Diante das autoridades seculares e eclesiásticas ali reunidas, Martin Luther negou a retratação e assegurou que para fazê-la teriam que convencê-lo com as Escrituras e a Razão.

O monge defende a liberdade de consciência diante do imperador e dos representantes da Igreja. O Èdito de Worms (veredicto que permitia a qualquer pessoa matar Martin Luther sem sofrer por isso qualquer conseqüência legal, e dispunha que as propriedades de Luther e de seus seguidores fossem confiscadas) ordena que seus 41 textos "heréticos" sejam queimados. Célebres tornaram-se as suas palavras:

"Hier stehe ich. Ich kann nicht anders". (Aqui estou. Não posso renunciar).





Martin Luther - Traduzindo a Bíblia para o alemão...



Nesse mesmo ano de 1521, Luther se refugia no castelo de Wartburg em Eisenach por cerca de um ano, deixa a barba crescer e toma as vestes de um Cavaleiro, sob a proteção de Frederico o sábio, onde empreendeu sua tradução do Novo Testamento do original grego ao alemão, considerado um ato de heresia.

Com as suas traduções da Bíblia (Novo Testamento em 1521 e Antigo Testamento em 1534), com as quais ele pretendia abrir o conteúdo teológico para a compreensão de todos, incluindo o povo, Luther incutiu simultaneamente um marco na história da língua alemã, até então vista como uma língua inferior, dos ignorantes, plebeus.





Filipe Melanchthon ajudou-o na tradução dos textos bíblicos do Grego e do Hebraico. Como original, serviu-se de uma Bíblia em Grego de Erasmo de Roterdão. Porém, a tradução para o alemão por Luther, não significava uma rejeição ou distinção, ele simplesmente desejava que todas as pessoas tivessem acesso às escrituras, não concordava com o fato de que somente o clero pudesse ter esse privilégio.

Casa de Luther e quarto no Monastério

Luther não foi o primeiro tradutor da Bíblia para o alemão. Já havia traduções mais antigas. A Tradução de Luther, contudo, suplantou as anteriores. Além da qualidade da tradução, foi amplamente divulgada por causa da imprensa.

Em 1522, a pequena nobreza revolta-se contra o Império, sob a liderança de Von Hutten e de Von Sickingen que pretendiam unificar a Alemanha, mas foram derrotados. Mais tarde, a Revolta dos Camponeses, inspirados pelo ardente teólogo Thomas Muntzer, ganha toda a Alemanha Meridional e Central, Muntzer é capturado em 1525, mas a luta continua por mais 11anos, quando os camponeses são vencidos definitivamente. Luther então publica “Contra os Bandos de Pilhadores e Assassinos Camponeses”. Não era de seu desejo causar uma desordem.

Eisleben - Martin Luther, sua esposa Katharina von Bora e seus Filhos...



Em 1525, durante a controvérsia, Martin Luther casa-se com Katharina von Bora uma antiga freira, que se converteu em uma colaboradora importante.

Em 1526 a cidade de Spira recusa-se a aplicar o Édito de Worms. Outras cidades a imitariam. Uma tentativa de forçar a aplicação do Édito provocou o protesto dos príncipes e burgueses partidários da reforma (daí vem à denominação de protestantes, dada aos seguidores de Luther).

Em 1529 tem início a compilação dos “Propósitos à Mesa”, reunião de conceitos de Luther acerca dos mais variados assuntos, a reforma espalha-se pela Europa em 1530 e diversas cidades recusam-se a aplicar o Édito de Worms.





A Publicação da Bíblia traduzida para o alemão ocorre em 1534, com essa obra Martin Luther transforma radicalmente o idioma de seu povo, lançando as bases do alemão moderno. Em 1537 sua saúde começou a deteriorar-se.

Em 1540 o Papa Paulo III aprova a constituição da "Sociedade de Jesus", fundada pelo espanhol Inigo Lopes de Recalde, ex-pagem da corte e militar, que gravemente ferido durante uma batalha perdeu sua aparência física; e impedido de fazer a corte, adotou o pseudônimo de Inácio de Loióla por ter nascido no Castelo de Loióla, e fundou a Ordem dos Jesuítas com o objetivo principal: varrer da Terra os Maçons, Muçulmanos e Protestantes. Essa foi uma Ordem sinistra amparada pelo Catolicismo que derramou muito sangue.

Eisleben - Sofá onde Luther faleceu





Em 18 de Fevereiro de 1546 em Eisleben na Saxônia, falece o Monge, Sacerdote, Teólogo e Grande Cavaleiro Martin Luther.











Eisleben - caixão de Martin Luther - 4 dias para alcançar Wittenberg



Eisleben

O caixão de Martin Luther demorou 4 dias para chegar em Wittenberg...









A Rosa de Martin Luther é o símbolo dos lutheranos de todo o mundo:

A Rosa de Martin Luther - Símbolo dos LutheranosCruz preta – no centro do emblema, lembra que Deus vem ao nosso encontro com o seu amor através do Jesus crucificado.

Coração vermelho – significa que Cristo agiu na nossa vida através da cruz. A nossa vida recebe novo sentido se Cristo for o seu centro.

Rosa branca – significa que, quando a cruz e Cristo tem lugar em nossa vida, ocorre uma transformação que traz verdadeira paz e alegria. A cor branca representa o Reino de Deus. Todas as promessas de Cristo são representadas por essa cor!

Fundo azul – Deus está conosco. Podemos viver com e para Deus, como sinais do seu Reino, já aqui e agora. Mas, é, também, esperança no futuro, pois o azul lembra a eternidade.

Anel dourado – sendo o ouro o metal mais precioso, o anel dourado representa as mais preciosas dádivas que recebemos através da cruz e ressurreição de Jesus, a saber, a nova vida para a fé e para o amor, a serviço de Cristo.

Martin Luther



Interessante, vale a pena assistir o Filme Luther, em uma de suas aulas de Teologia, seu professor fala sobre um debate que perdura há mais de 1400 anos desde os primórdios da Igreja: “Fora da Igreja Romana não existe Salvação”.

Martin Luther enfrentando Wittenberg...



Diz o Professor: Mas agora o V Concílio de Latrão confirmou a famosa frase de São Cipriano: “Fora da Santa Igreja Romana não existe salvação”.

Luther interrompe as palavras do Professor com a seguinte questão: “Professor, e os cristãos gregos?”.

O professor responde: Os cristãos gregos? Bom...Um velho documento da Igreja fala que um bispo Romano e Não um Grego seria o sucessor de São Pedro, e é claro o nosso Senhor Jesus Cristo fez de Pedro seu sucessor na Terra.

Luther então debate: Então devemos considerar que os Santos da Igreja Grega estão condenados?

O professor responde: “Você não entendeu”.

Luther continua: “Mas essa é a conseqüência inevitável da frase de São Cipriano”. Os cristãos gregos não terão salvação. Ou será que esta afirmativa não seria uma leitura radical de Matheus Cap.16 - V.18: - “Tu és Pedro e sob essa pedra irei edificar a minha igreja contra os portões do inferno”. - Duas linhas antes no versículo 16, nós encontramos os fundamentos da nossa fé: “Tu és Cristo, filho de Deus vivo”. – Com certeza quanto mais universais tornamos essas palavras, mais nos aproximamos da mente de Cristo.

O professor faz uma pergunta desafiante: Questiona a autoridade do Concílio da Igreja, Senhor?

Luther: De modo algum. Mas o IV Concílio de Latrão admitiu que talvez Cipriano estivesse errado e que poderia existir salvação fora da Igreja...Embora não fora de Cristo.

Paz e Luz em seu caminho

A INQUISIÇÃO

(TEXTO ORIGINAL = http://www.misteriosantigos.com/inquisi.htm)

Mesmo antes de oficializada a Inquisição, a mesma já se fazia presente em pleno tumulto da Idade Média, para Oeste através da Europa marchavam os chamados “demônios da heresia” arrebanhando adeptos e, segundo a Igreja Romana perturbando a Ordem. Mas...muitos desses heréticos eram simples clérigos e bem-intencionados que desejavam reformar o que consideravam excessivo dentro da Igreja, desejam a volta à piedade humilde de Jesus e seus discípulos, enquanto o Vaticano cercado de uma Pompa Imperial, tamanho poder político e “poder espiritual” gastava energia envolvendo-se em intrigas da corte.

Para os reformistas que consideravam a igreja dispensável e acreditavam que o Reino de Deus estaria no coração de cada um, a Igreja deu o seu recado: organizou o primeiro grande Tribunal Público Medieval contra a heresia em Orleans em 1022. Os réus? Evidentemente os reformistas que pregavam dizendo aos quatro cantos do mundo que para encontrar Deus não seria necessário um Templo de Pedras, muito menos a pompa Imperial da Igreja.

Em inúmeros Tribunais Civis e nas temidas cortes da Inquisição, a acusação era sinônimo de condenação e a condenação uma sentença de morte das mais variadas; flageladas e mutiladas pelos torturadores, a carne dilacerada e os ossos quebrados, as vítimas confessavam coisas absurdas; os que tivessem sorte seriam decapitados ou mortos de maneira relativamente mais humana antes que seus corpos fossem reduzidos a cinzas em fornos. E os azarados, queimados vivos e em fogueira de madeira verde para que a agonia se prolongasse.

Os inquisidores estavam ali enquanto o fogo martirizava a vítima, e incitavam-na, piedosamente, a aceitar os ensinamentos da "Igreja" em cujo nome ela estava sendo tratada tão "delicadamente" e tão "misericordiosamente". Para que houvesse um contraste com a tortura pelo fogo, também praticavam a da água:

“Amarrando as mãos e os pés do prisioneiro com uma corda trancada que lhe penetrava nas carnes e nos tendões, abriam a boca da vítima a força despejando dentro dela água até que chegasse ao ponto de sufocação ou confissão.”

Todas as imaginações bárbaras do espírito de Dante, quando descreveu o Inferno, foram incorporadas em máquinas reais que cauterizavam as carnes, esticavam os corpos e quebravam os ossos de todos aqueles que recusavam crer na "branda misericórdia" dos inquisidores.

Foi uma verdadeira passagem de terror, que durou aproximadamente 300 anos ceifando a vida de milhares de inocentes que não tiveram nem a opção de lutar pela sua própria liberdade de expressão. Esse frenesi de ódio e homicídio alastrou-se como fogo em diversos lugares incendiando a vida civilizada; França, Itália, Alemanha, Espanha, Países Baixos, Inglaterra, Escócia, Áustria, Noruega, Finlândia, Suécia e por um breve período, saltaria o Atlântico inflamando até o Novo Mundo.

A seita denominada Waldenses – por causa do seu fundador, Peter Waldo, que traduzira o Novo Testamento sem autorização – foi alvo de perseguição por parte da Igreja mesmo antes de a Inquisição ter realmente começado. A Inquisição perseguiu os Waldenses, cujos pregadores itinerantes faziam votos de pobreza, por quase todos os cantos da Europa. Típico foi o destino dos adeptos que buscaram refúgio nos Alpes franceses, a inquisição cercou-os acusando-os injustamente de invocarem demônios, provocarem tempestades, comerem carne humana e envolverem-se com outros procedimentos heréticos, o pouco que se sabe, 110 mulheres e 57 homens haviam sido condenados e queimados vivos.

Quem cometesse erros na interpretação das sagradas escrituras, quem criasse uma nova seita ou aderisse a uma seita já existente, quem não aceitasse a doutrina Romana no que se refere aos sacramentos, quem tivesse opinião diferente da igreja de Roma sobre um ou vários artigos de Fé e quem duvidasse da fé Cristã, todos eram torturados barbaramente.

Sorrir era proibido! O tom sério afirmou-se como a única forma de expressar a verdade e tudo que era importante e bom. O riso, por sua vez, era visto como o oposto: a expressão do que era mau (pecado). O riso foi declarado como uma emanação do diabo. O cristão deveria conservar a seriedade sempre, para demonstrar seu arrependimento e a dor que sentia na expiação dos seus pecados. É interessante notar que nas histórias infantis medievais essa articulação entre bem e seriedade, mal e riso é fortemente representada. A mocinha que é boa sofre sempre e é tristonha; a bruxa ou feiticeira que é má está sempre dando gargalhadas. Certamente que, seguindo o raciocínio moral da Idade Média, no final da história o sofrimento será recompensado e o riso castigado.

Haveria um tempo em que qualquer bispo católico, no lugar de deter-se para salvar vidas, estaria enviando centenas delas para a morte.

Mas...até mesmo os clérigos não eram poupados, muitos eram acusados de envolvimentos com práticas ocultas mais elevadas, todo o costume que fugisse da tradição da Igreja era comparado a heresia. Época na qual “reinava” a ignorância, poucos eram os que sabiam ler e escrever, privilégios de alguns ricos, nobres, escalões da igreja e certamente clérigos, sendo assim um clérigo era capaz de ler os antigos livros de magia que circulavam sutilmente entre os chamados heréticos.

Mesmo nos níveis mais altos da hierarquia eclesiástica e às vezes até nos altos escalões, ninguém estava a salvo dos raios fulminantes da inquisição. Frei Guillaume Adeline era prior de um importante monastério em Saint-Germaine-em-Laye, era também renomado doutor de teologia, ele foi acusado de prática de feitiçaria. Os inquisidores alegaram que fora encontrado com ele um pacto por escrito com o demônio. Para um intelectual de seu porte, mesmo em uma situação de intensa dor e alto risco, as ofensas que foi obrigado a admitir devem ter parecido ironicamente ridículas: manter relações sexuais com um súcubo, voar montado numa vassoura, beijar o ânus de um bode. O Frei Guillaume Adeline foi queimado vivo.

A tortura e o temor distorciam a verdade, vizinhos acusavam-se mutuamente, cristãos denunciavam companheiros de religião, crianças testemunhavam contra os próprios pais, era família contra família, esposas delatavam seus maridos, camponeses voltavam-se contra seus senhores, foi um reinado de horror, no qual eram forçados a delatar uns aos outros.

Numa cidade do norte da França chamada Arras, um grande centro manufatureiro, um pobre ermitão foi condenado a ser queimado como bruxo. Tentando escapar da tortura, ele prontamente denunciou uma prostituta e um velho poeta até então mais conhecido por seus poemas à Virgem Maria. Estes dois, por sua vez, acusaram outras pessoas e logo começaram as fogueiras.

E a Igreja foi a principal responsável...pelas mudanças na atitude das pessoas e na política oficial que resultaram numa grande carnificina.

Os métodos para se extrair confissões não eram nada agradáveis, as pessoas não tinham benefício de um júri e também não tinham permissão de confrontar seus acusadores, aliás nem chegavam a saber a identidade de seus delatores. As confissões eram extraídas de todas as maneiras possíveis, já que nos termos da lei canônica os réus só seriam condenados mediante confissão. Um exército de torturadores trabalhava diligentemente para atingir esse objetivo. O quê certamente conseguia.

A Inquisição usava como método de obtenção de confissão a tortura e em alguns casos ao extremo, levando o torturado à morte.

Segundo Enry Thomas, grande historiador norte-americano, poderia ser escrito um livro somente sobre as torturas empregadas pela inquisição, embora nada agradável:

“O prisioneiro, com as mãos amarradas para trás, era levantado por uma corda que passava por uma roldana, e guindado até o alto do patíbulo ou do teto da câmara de tortura, em seguida, deixava-se cair o indivíduo e travava-se o aparelho ao chegar o seu corpo a poucas polegadas do solo. Repetia-se isso várias vezes. Os cruéis carrascos, as vezes amarravam pesos nos pés das vítimas, a fim de aumentar o choque da queda.“

“Depois havia a tortura pelo fogo. Colocavam-se os pés da vítima sobre carvão em brasa e espalhava-se por cima uma camada de graxa, a fim de que este combustível estalasse ao contato com o fogo."

De acordo com a lei, tortura só podia ser infligida uma vez, mas essa regulamentação era burlada facilmente...quando desejavam fazer repetir a tortura, mesmo depois de um intervalo de alguns dias, infringiam a lei, não alegando que fosse uma repetição, mas simplesmente uma continuação da primeira tortura....

Uma das experiências mais chocantes que podemos viver é visitar um museu que expõe os instrumentos de torturas usados na Idade Média. É como entrar numa câmara de horrores. É quase impossível acreditar que aqueles objetos eram usados para ferir as pessoas. Aliás, visitar museus que expõem instrumentos de torturas de qualquer época histórica e de qualquer região do mundo é sempre uma experiência muito dolorosa, porquê nos depara com a crueldade humana elevada a altíssima potência. São pessoas abusando de seu poder para ferir outras pessoas que não podem se defender. A tortura é a expressão máxima da covardia humana, por isso é tão doloroso lidar com esse assunto.

O Juiz Heinrich Von Schulteis de Rhineland do século XVII, considerava a tortura agradável aos olhos de Deus. Ele chegou a cortar os pés de uma mulher e despejar óleo quente nas feridas abertas.

Agora...que opções tinham os réus? Pois eram torturados se necessário até a morte para confessar qualquer absurdo, e quando confessavam eram queimados vivos ou teriam a cabeça decepada entre outras formas brutais e malignas de se tirar uma vida...

Quanto ao réu não saber quem o acusou e acusou-o de que, isso era extremamente interessante para a igreja, porquê dessa maneira a igreja pegava qualquer pessoa que tivesse posses e a acusava de qualquer coisa, assim sendo, a pessoa seria condenada e todos os seus bens confiscados pela “Santa Igreja”.

Falsas acusações, indulgências, pilhagens, saques tornaram a Igreja um Império Poderoso, tanto político quanto “espiritual”: o Vaticano um país dentro do território de outro país.

A arrogância clerical e os abusos de uma igreja corrupta se tornavam cada vez mais insuportáveis. No início do século XIII, o próprio Papa afirmava que os seus respeitados sacerdotes eram “piores que animais refocilando-se em seu próprio excremento”.

“Pescadores de dinheiro e não de almas”, com mil fraudes para esvaziar os bolsos dos pobres, assim eram descritos os bispos da época. De acordo com o legado papal na Alemanha, eles reclamavam de que o clero em sua jurisdição só sabia se refestelar de luxo e gulodice, não respeitava jejuns, fazia transações comerciais, jogava e caçava. Eram enormes as oportunidades de corrupção, até para a realização de seus deveres oficiais exigiam dinheiro, casamentos e funerais sem pagamento adiantado não existia e antes de uma doação não se realizava comunhão, até mesmo os agonizantes ficavam sem seus últimos sacramentos caso algumas moedas não tilintassem no cofre. As famosas indulgências eram simplesmente uma renda extra.

Por ironia do destino, tempos depois, a igreja acusava a Ordem dos Cavaleiros Templários de toda a heresia possível, inclusive de homossexuais, mas esquecera-se que dentro da própria igreja toda essa heresia era um exemplo vivo, usurpadores, torturadores e também existiam os homossexuais. O próprio Arcebispo de Tours foi um homossexual notório que fora amante do seu antecessor e que exigiu na época que o bispado vagado de Orleans fosse concedido ao seu amante. Mas esse pequeno texto é apenas um detalhe, um livro bastante indicado é “A Inquisição” (Michael Baigent & Richard Leigh) entre outros, o que se torna bastante interessante quando comparamos.

Segundo o maior poeta lírico alemão da Idade Média (os livros alemães são importantes, mas raros e quase ninguém tem acesso), Walther Von der Vogelweide (1170-1230):

“Por quanto em sono jazereis, Ó Senhor?...Vosso tesoureiro furta a riqueza que haveis armazenado. Vosso ministro rouba aqui e assassina ali, E de vossos cordeiros como pastor cuida um lobo”.

Em novembro de 1207, o Papa Inocêncio III escreveu ao Rei da França e a vários nobres do alto escalão francês, obrigando-os a suprimir os “hereges” em seus domínios pela força militar, em troca recebiam variáveis recompensas, desde absolvição de seus pecados e vícios, liberação de pagamento de todo juro sobre suas dívidas, isenção da Jurisdição dos Tribunais Seculares, além é claro de todas as vantagens explícitas ainda recebiam permissão para saquear, roubar, pilhar e expropriar propriedades. Sendo assim...surgiram batalhas uma após a outra, massacres, que segundo a Igreja eram conhecidos como “Guerra Santa” em nome de Deus, mas de um Deus que somente a igreja conhecia e se beneficiava da sua proteção.

Assim teve início a Inquisição em pleno tumulto da Idade Média por um decreto papal de 1233 que oficializava a lei do Vaticano. Nos cinco séculos seguintes essa temível instituição continuaria consumindo o que ela julgava como inimigos da igreja, heréticos ou feiticeiros às centenas de milhares.

Na Provença, a inquisição varreu os Cátaros da face da terra, os cátaros abraçavam um extremo ascetismo e espalharam sua doutrina por boa parte do continente durante os séculos XII e XIII, eles acreditavam que o mundo físico estava impregnado pelo mal e tinha Satã como seu rei. De acordo com essa lógica, a Igreja Católica era também um instrumento do demônio e abomináveis eram todos os seus sacramentos. Muitos nobres abraçaram a sua fé, arrebanharam um número enorme de seguidores no sul da França, seus adeptos tornaram-se conhecidos como Albigenses (Albi – Provença). A sua importância crescente tornou-se um insulto intolerável para o poderio da Igreja Católica, então a igreja decidiu apelar para a força...

E logo estendeu seu braço para outras partes da França, depois da Itália e da Alemanha. Na Espanha foi estabelecida sua própria inquisição, utilizando os mesmo métodos brutais para perseguir mouros, judeus, heréticos e qualquer grupo suspeito de prática de feitiçaria.

Assim teve início a verdadeira “arte de matar”, onde o palco era a fogueira, os acessórios eram os instrumentos de torturas e os figurantes eram o povo suprimido que não tinham a quem recorrer ou pedir proteção, porquê o Deus que até então tinham conhecimento era o mesmo Deus que a Igreja utilizava-se para comandar a “Guerra Santa”.

Quando a carnificina atingiu o auge nos domínios germânicos, em meados de 1600, povoados inteiros eram dizimados de uma só vez. Segundo alguns relatos, o inquisidor da Saxônia, Benedict Carpzov assinou pessoalmente nada mais nada menos do que 20 mil penas de morte.

Contudo, grande parte dos documentos desses tribunais se perdeu e o número verdadeiro de todos esses assassinatos jurídicos nunca será revelado. De qualquer modo, tratou-se de uma experiência sombria, horrível e vergonhosa para a civilização e para o cristianismo.