O jovem Percival estava exausto depois de cavalgar o dia inteiro.
Meses antes ele tinha partido da corte do rei Artur em busca de fama e
aventuras, mas naquela noite tudo que ele queria era dormir. Foi quando
avistou um castelo. Os portões estavam abertos e Percival entrou. Lá
dentro foi recebido por um certo “Rei Pescador”, um velho nobre que o
convidou para a ceia. Antes de o banquete começar, duas crianças
atravessaram a sala. Primeiro um menino passou trazendo nas mãos uma
longa lança, cuja ponta sangrava como se estivesse viva. Logo depois
surgiu uma menina em roupas majestosas, carregando um recipiente de ouro
puro, incrustado pelas jóias mais preciosas da Terra. O clarão era tão
intenso que as velas do castelo perderam o brilho. Percival ficou
deslumbrado, mas, por timidez, não perguntou o significado daquilo. No
dia seguinte, o cavaleiro seguiu viagem. Aquela cena nunca mais sairia
de sua cabeça. Um dia, ele decidiu reencontrar os tesouros e desvendar
seus segredos, ainda que a aventura lhe custasse a vida. A busca pelo
Graal acabava de começar.
Essa história foi escrita há mais de 800 anos, por volta de 1190. Ela
faz parte do livro Le Conte du Graal (“O Conto do Graal”), de Chrétien
de Troyes, um dos maiores escritores franceses da Idade Média. O livro
deixava de explicar muitas coisas. Afinal, que recipiente dourado era
aquele? Quem era o Rei Pescador? Por que a lança sangrava? Como acabou a
busca de Percival? Poucos anos depois, Chrétian morreu, deixando todas
essas perguntas sem resposta.
Pelo que se sabe, O Conto do Graal foi a primeira referência ao tema
na história. A Bíblia não fala uma palavra sobre o Santo Graal e seus
poderes. O livro de Chrétien incendiou a imaginação dos europeus do
século 12 e acabou se tornando uma verdadeira obsessão para leitores e
escritores. Tudo indica que O Conto do Graal foi uma espécie de best
seller de sua época – o primeiro de uma longa série de sucessos
literários inspirados pelo tema. Com o tempo, foram surgindo explicações
para as coisas estranhas que aconteciam na história e tanto o
recipiente dourado quanto a lança começaram a ser interpretados como
relíquias dos tempos bíblicos. O Graal, que começou sua história no
reino da ficção, foi sendo transformado pelo imaginário coletivo em uma
das peças centrais da mitologia do cristianismo – um objeto divino,
dotado de poderes miraculosos e capaz de diminuir a distância entre Deus
e os homens. Uma imagem tão poderosa que até hoje há quem diga que ele
realmente existiu.
Após a Idade Média, a “lança que sangra” ficou meio de lado nas
páginas da literatura, mas o Graal continuou sua carreira de sucesso.
Ele chegou aos tempos modernos e povoou filmes hollywoodianos, reflexões
eruditas e best sellers internacionais. Por trás de toda sua fama, o
mistério permanece. Oito séculos após o surgimento da lenda, o dilema
central continua de pé: afinal de contas, o que é o Graal?
As raízes medievais
É bom avisar logo: para a pergunta acima não há resposta. O que se
sabe é que graal é uma palavra do francês antigo que indica uma espécie
de tigela utilizada nas refeições dos aristocratas. Alguns acreditam que
o Santo Graal seja um artefato arqueológico cujos rumos podem ser
traçados desde a Antiguidade até os dias de hoje. Para outros, ele é um
símbolo esotérico ou um ideal filosófico. Muita gente afirma que ele
nunca passou de fantasia literária.
A estréia do Graal nas páginas da ficção, no livro de Chrétien,
ocorreu em uma das épocas mais dinâmicas e criativas da história: os
séculos 12 e 13, que assistiram a uma revolução nas sociedades
européias. “Em todos os aspectos da vida e da cultura, o período foi
decisivo para a formação do Ocidente”, diz o medievalista José Rivair
Macedo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “As cidades se
multiplicavam e se expandiam, o comércio renascia e por todo lado
ocorriam grandes mudanças sociais e econômicas.” Esse clima também se
refletiu na literatura, dando origem aos primeiros poemas e romances das
línguas européias modernas – antes só se escrevia em latim, e para
poucos.
Chrétien de Troyes, autor de diversos romances sobre as lendas do rei
Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda, foi um dos escritores mais
lidos dessa época revolucionária. Embora tenha sido o primeiro a
escrever sobre o tema, há quem diga que o Graal não foi uma invenção
sua. A figura de um “recipiente sagrado” era comum na mitologia do povo
celta, que habitou a Europa Ocidental na Antiguidade, antes da chegada
dos romanos. Entre as crenças celtas, havia a do caldeirão de Ceridwen,
que continha uma “poção da sabedoria”, e a do caldeirão de Bran, dentro
do qual os guerreiros mortos ressuscitavam. Para muitos estudiosos, o
Graal de Chrétien é herdeiro dessas lendas, mais antigas que o próprio
cristianismo.
Ao longo dos séculos, circulou a tese de que Chrétien encontrou a
história do Graal em algum manuscrito desaparecido. Essa opinião se
baseia nas palavras do próprio autor: na obra ele cita um livro anônimo
cujas revelações teriam servido de inspiração para o seu conto. De
acordo com alguns historiadores, isso talvez não passe de um truque
literário. Ao contrário do que acontece nos tempos atuais, a Idade Média
não via a originalidade com bons olhos. Os escritores tinham o hábito
de citar autoridades reais ou imaginárias para dar força a suas próprias
criações. Ainda assim, a idéia de um manuscrito original contendo a
“verdadeira” história do Graal tornou-se comum na Idade Média. Muita
gente afirmou ter encontrado o texto, mas ninguém convenceu
completamente os historiadores. Se Chrétien inventou o Graal ou se o
encontrou numa narrativa antiga, é coisa que provavelmente jamais
saberemos.
Ainda mais incerto é o significado que Chrétien pretendia dar aos
tesouros do Rei Pescador. Embora o conto fosse um trabalho de ficção,
era comum que literatura e teologia se misturassem na Idade Média, com
uma facilidade que pode ser difícil de compreender para a mente
materialista do século 21. A religião estava presente em todos os
aspectos do dia-a-dia: nobres e plebeus acreditavam no poder das
relíquias (veja quadro à esquerda), viajavam centenas de quilômetros
para visitar túmulos de santos e viam por todos os lados presságios do
Juízo Final e sinais da providência (ou da ira) divina. Naquele mundo
saturado de misticismo, o público estava acostumado a encontrar símbolos
religiosos em meio aos enredos de seus romances favoritos.
Nos 30 anos seguintes, a história de Percival seria recontada por
diversos autores, que acrescentaram novos detalhes e deram ao Graal
aspectos diferentes. Para alguns, ele é um relicário contendo a hóstia.
Para outros, uma taça ou uma simples tigela. Em Perlesvaus, obra anônima
escrita por volta de 1210, o Graal é um objeto mutante, que assume
cinco formas diferentes. Segundo o romancista, “nenhuma dessas
transformações pode ser revelada” aos mortais comuns, exceto a última: a
forma de um cálice. Alguns acreditam que o Graal-cálice reflita o
fascínio medieval pela cerimônia da Eucaristia, na qual a hóstia é
consagrada como sendo o corpo de cristo – o momento mais solene e
dramático da fé católica.
Mas foi nas páginas do Roman de L’Estoire du Graal (“Romance da
História do Graal”), escrito entre 1200 e 1210 pelo poeta francês Robert
de Boron, que o Santo Graal ganhou sua versão mais popular. Robert
criou uma explicação “histórica” para o misterioso tesouro: o Graal
seria o prato ou o vaso no qual Jesus partiu o pão na última ceia, mais
tarde usado pelo seu discípulo José de Arimatéia para recolher o sangue
de Cristo na cruz. Depois da crucificação, essa relíquia teria passado
por várias peripécias na Terra Santa até aportar em solo europeu, onde
teria ficado escondida atrás das muralhas de um castelo encantado.
Segundo o livro de Robert, o objeto tinha poderes sobrenaturais, entre
eles o dom de curar feridas, espantar demônios, fazer a terra florescer e
revelar segredos apocalípticos. O Cálice Sagrado funcionaria como uma
ligação do plano material com o metafísico – uma espécie de ponte entre o
humano e o divino.
Em outros romances, a origem da “lança que sangra” também é
desvendada. Ela é descrita como a arma usada pelo soldado romano
Longinus para rasgar o flanco de Cristo durante a crucificação. Segundo
uma velha crença, o golpe dado por Longinus representa o momento exato
da morte do Messias. Logo, a lança seria nada menos do que a arma usada
para matar Jesus. Não espanta que depois de tantos séculos ela
continuasse ensangüentada.
Todas essas teses fortaleciam a crença de que os objetos avistados
por Percival fossem mais do que simples tesouros. Eles eram as maiores
relíquias do cristianismo – os mais sagrados entre todos os objetos
sobre a terra.
As novas lendas
O poeta bávaro Wolfram von Eschenbach, que viveu entre os séculos 12 e
13, foi responsável pela versão mais surpreendente do Santo Graal na
Idade Média. Sua obra-prima, Parsifal, escrita entre 1210 e 1220, sugere
que o Graal era muito anterior a Cristo. Em vez de prato, vaso ou
cálice, ele é descrito como uma pedra luminosa, trazida à Terra por
espíritos celestiais quando o mundo era jovem. O Graal-pedra teria sido
guardado através dos séculos por uma irmandade de cavaleiros, os
templeisen (pronuncia-se “templáisen”), no castelo de Munsalvaesche.
Wolfram era um autor criativo e suas obras estão cheias de palavras
inventadas e lugares imaginários – ninguém sabe o que podiam ser os
templeisen ou que lugar era Munsalvaesche.
A história de Wolfram tem semelhanças curiosas com a lenda do
Al-Hajarul Aswad – rocha negra guardada na Caaba, centro da Mesquita de
Meca –, o objeto mais sagrado do islamismo. O poeta bávaro pode ter
sofrido influência de autores muçulmanos, numa época em que os árabes
dominavam boa parte da Europa. Segundo lendas antigas, o Al-Hajarul
Aswad caiu dos céus nos tempos de Adão e tem o poder de purificar os
fiéis de seus pecados. Outros acreditam que o Graal de Wolfram seja uma
alusão ao “lápis elixir”, ou pedra filosofal, substância mítica que os
alquimistas medievais consideravam capaz de prolongar a vida e
transformar qualquer metal em ouro.
Parsifal pode estar na origem de outra lenda que passou a circular no
fim do século 13. Segundo ela, o Graal era uma esmeralda que havia
adornado a coroa de Lúcifer, o anjo mais poderoso dos exércitos divinos.
Essa lenda afirma que a coroa foi despedaçada pela espada do arcanjo
Miguel quando Lúcifer ousou revoltar-se contra Deus. O anjo despencou
para o fundo do Inferno e a esmeralda caiu na Terra como um meteorito.
Mais tarde, ela seria encontrada por um sábio chamado Titurel e
esculpida na forma de um vaso.
Livros como esse alcançaram uma popularidade tão grande que, de
acordo com o medievalista francês Philippe Walter, deram origem a uma
verdadeira “Era do Graal” na cultura da Idade Média. Logo o Santo Cálice
ultrapassou os limites da ficção e entrou no reino da possibilidade
histórica. Começaram a correr rumores de que ele se encontrava de fato
em algum lugar da Europa (veja o mapa abaixo).
Para os interessados em rastrear o “verdadeiro Graal”, o livro de
Wolfram, com seus detalhes exóticos e alusões obscuras, foi um prato
cheio. Parsifal cercou-se de polêmicas, nenhuma delas mais persistente
do que a levantada pela palavra templeisen. No início da Idade
Contemporânea, surgiu a tese de que a irmandade citada em Parsifal fosse
uma referência à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de
Salomão – os templários. Para entender o fascínio que essa teoria
exerceu (e ainda exerce) sobre leitores e escritores, é preciso dar uma
olhada na controversa trajetória dos templários – um drama real, mas tão
intenso e surpreendente que também poderia ter saído das páginas de um
romancista.
Os templários
Em 1096, incitados pelo papa Urbano II, os cristãos da Europa
organizaram um ataque à Terra Santa, então dominada por muçulmanos. Essa
invasão foi a Primeira Cruzada e seu resultado foi a conquista de parte
do território onde hoje fica Israel e a Palestina. Apesar da vitória
militar, o território continuou sob litígio e, portanto, não era dos
lugares mais seguros para cristãos. Por isso, 20 anos depois, foi
fundada a Ordem do Templo, com o objetivo de proteger os peregrinos
cristãos em visita aos santuários. Os membros da ordem uniam o
treinamento militar às regras monásticas – além dos votos de pobreza e
castidade, eles juravam defender a fé a golpes de espada.
Apesar do voto de pobreza, a ordem adquiriu uma especialidade nada
franciscana: ganhar dinheiro. Ao longo dos séculos dedicados a proteger
cristãos, os templários receberam de nobres agradecidos muitas doações
de terras e dinheiro. Além disso eram beneficiados por isenções de
impostos e foram aos poucos montando uma frota naval que se tornaria
maior que a de qualquer Estado cristão. Seu sucesso no mundo financeiro
foi tão grande que “os defensores de Cristo” acabaram se tornando
banqueiros. Emprestavam dinheiro, aceitavam depósitos, controlavam
investimentos. Cem anos após sua fundação, a ordem transformara-se numa
verdadeira companhia multinacional, mais rica que qualquer país cristão.
A influência política dos templários cresceu junto com sua riqueza. Nos
séculos 12 e 13, os cavaleiros trabalhavam como conselheiros e
diplomatas nas cortes dos reis e no próprio Vaticano, compartilhando
segredos de Estado e contando com privilégios legais. É claro que tanto
poder gerou inimigos. E a situação dos templários piorou muito em 1291,
quando os muçulmanos, depois de dois séculos de luta, finalmente
expulsaram os cristãos da Terra Santa.
Nas primeiras horas de 13 de outubro de 1307, Felipe, o Belo, rei da
França, ordenou a prisão de todos os monges-guerreiros do país, sob
acusação de heresia. Começava um dos julgamentos mais famosos e
(aparentemente) injustos da história. As acusações incluíam o culto do
demônio, homossexualismo e insultos à hóstia – crimes que, na Idade
Média, eram motivo de sobra para a pena de morte.
Na opinião da maior parte dos estudiosos, tudo não passou de calúnia.
“Nenhum historiador de renome admitirá como verdadeira essa miscelânea
de tolices”, escreveu o medievalista inglês Malcolm Lambert no seu livro
de 1992, Medieval Heresy (“Heresia Medieval”, sem versão brasileira).
Torturados e amedrontados, muitos templários se declararam culpados.
Vários monges-guerreiros pereceram nas câmaras de tortura, nas
profundezas dos calabouços ou nas fogueiras da Inquisição. Outros se
mataram de puro desespero. Em 1315, o papa Clemente V extinguiu
oficialmente a ordem e parte das suas propriedades foi parar nas mãos de
seu maior algoz – o rei da França.
A maior parte dos historiadores aposta que os monges-guerreiros
tenham sido dizimados por motivos políticos e econômicos. O rei Felipe
estava falido e confiscar a fortuna da ordem seria uma ótima solução
para ele. Mas há teorias que dizem que a perseguição teve razões mais
misteriosas. Elas falam num fabuloso “tesouro dos templários”, que
incluiria quantidades absurdas de ouro, prata e jóias, além de artefatos
sagrados encontrados na Terra Santa. Essas teses começaram a tomar
forma apenas entre os séculos 18 e 19 – época em que surgia,
simultaneamente, um renovado interesse pelos mitos do Cálice Sagrado. O
Graal tinha sido esquecido no início da Renascença, quando todos os
medievalismos saíram de moda. Agora, no entanto, o mito do Cálice
Sagrado renascia com força total, inspirando diversas obras-primas do
Romantismo, entre elas a ópera Parsifal, do compositor alemão Richard
Wagner.
Não demorou muito para que estudiosos sugerissem que o suposto
“tesouro perdido” dos templários, nunca encontrado, fosse nada menos que
o Graal. No século 19, as obras de Wolfram foram resgatadas – e o
erudito austríaco Joseph von Hammer-Purgstall foi o primeiro a afirmar
que os templeisen eram na verdade cavaleiros templários. Para ele, a
Ordem do Templo servia de fachada para os adeptos de uma seita pagã que
adotava o Graal como uma espécie de ídolo satânico. Segundo essa tese
desvairada, a matança dos templários não tinha nada de injusta – foi
apenas uma reação da Igreja contra esses conspiradores demoníacos.
Hoje, a maior parte dos historiadores descarta a teoria como pura
imaginação. “O vínculo entre templários e o Graal é implausível”,
escreveu o medievalista inglês Richard Barber em The Holy Grail:
Imagination and Belief (“O Santo Graal: Imaginação e Crença”, publicado
em 2004 e ainda sem tradução no Brasil). “A Ordem do Templo era uma
sociedade militar com fins práticos e não tinha nenhum interesse em
misticismo ou teologia”, diz. Ainda assim, com sua irresistível mistura
de erudição e conspiração, o pesquisador austríaco abriu as portas para
teorias mirabolantes que relacionam templários, o Cálice e algum
grandioso segredo escondido entre as páginas da história.
O cálice pop
No século 20, a lenda ganhou interpretações que soariam
inacreditáveis para os contemporâneos de Chrétien de Troyes. Em 1920, a
inglesa Jessie Weston imaginou uma explicação sexual: o vaso seria um
símbolo da vagina e a “lança sangrenta” – adivinhe – representaria o
pênis. Houve quem viajasse ainda mais longe. Na década de 80, o pastor
anglicano Lionel Fanthorpe, presidente da Associação Britânica de
Pesquisas Ufológicas, sugeriu, no livro The Holy Grail Revealed (“O
Santo Graal Revelado”, não traduzido no Brasil), que o Cálice tivesse
sido “trazido à Terra por uma nave espacial”.
Uma das teses mais famosas – e também das mais controversas – é a do
livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, de 1982. Os detratores da
teoria reclamam da lógica peculiar do livro, onde coincidências servem
como provas e suposições viram argumentos. Por exemplo: os evangelistas
às vezes se referem a Jesus como “um rabino” e, na antiga Judéia, os
rabinos tinham que ser casados. Logo, Jesus devia ter uma esposa. E ela
devia ser Maria Madalena, a “pecadora” que Jesus salvou do
apedrejamento.
Em seguida, o livro interpreta a expressão francesa San Greal (usada
em alguns textos medievais para indicar o Cálice Sagrado) como uma
corruptela de sang real (em francês antigo, “sangue de rei”). O
Evangelho de Marcos afirma que Jesus era descendente dos reis Davi e
Salomão – logo, o tal sangue real pode ser uma referência à linhagem
terrena de Cristo. De suposição em suposição, os autores chegam à
hipótese de que a crucificação foi uma farsa. Jesus, que se considerava
herdeiro do trono de Jerusalém, fugiu para a França com a esposa e seus
filhos. Sua descendência teria continuado viva com os merovíngios,
dinastia francesa que reinou nos primeiros séculos da Idade Média.
Perseguidos pela Igreja Católica, que temia perder seu poder sobre os
fiéis, os herdeiros de Cristo teriam sobrevivido graças à proteção –
adivinha de quem? – dos templários.
Graças ao gosto moderno por intrigas esotéricas e complôs universais,
essa teoria acabou se transformando num fenômeno pop. Ainda que poucos
pesquisadores a levem a sério, ela acabou definitivamente assimilada à
mitologia do Santo Graal. As idéias contidas em O Santo Graal e a
Linhagem Sagrada serviram de inspiração para best sellers internacionais
como Os Filhos do Graal, de Peter Berling, sucesso na Europa na década
de 90, e O Código Da Vinci, de Dan Brown, que vendeu 17 milhões de
exemplares pelo mundo e vai virar filme pelas mãos do diretor Ron
Howard.
Ao que tudo indica, a saga do Graal está longe de acabar. Relíquia
católica, símbolo pagão ou estrela do entretenimento, ele continua uma
imagem capaz de significar muitas coisas em muitas épocas diferentes – e
é nesse poder camaleônico de sugerir e ocultar, iluminar e confundir,
que se encontra o segredo de sua longevidade. Desde os tempos da
cavalaria até a era da comunicação em massa, o Graal sempre foi um
objeto mais do reino da ficção que da história. Mesmo assim, ao longo
desses 800 anos, ele nunca parou de mexer com a imaginação humana. O
Código Da Vinci não é o primeiro best seller a ter o Graal como estrela.
E pode ter certeza de que não será o último.
Fonte:
http://super.abril.com.br/historia/busca-graal-445474.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super